<p>O poder judicial está empenhado em derrubar o primeiro-ministro". As palavras são de Marinho e Pinto e foram ditas na sequência de uma audição parlamentar onde o bastonário dos advogados já afirmara que o poder judicial tem uma agenda política "mais ou menos oculta".</p>
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O Conselho Superior da Magistratura diz que as declarações de Marinho não têm dignidade institucional para serem analisadas. João Correia, secretário de Estado da Justiça falou de casos de contaminação política nas magistraturas. O Sindicato dos Magistrados reagiu e reafirmou a postura isenta dos magistrados.
Cada vez mais, a Justiça mantém-se nas primeiras páginas, e não necessariamente por bons motivos. Garcia Pereira falou, há dias, em "corrupção na Justiça" mas, aparentemente, ninguém ouviu. Também disse que a maioria dos cidadãos já não confia na Justiça, mas fez-se silêncio em volta. Há dias, era Cândida Almeida quem sugeria que os magistrados fossem sujeitos a escutas para se saber quem viola o segredo de Justiça. Declarações das mais altas instâncias reduziram-na a quase nada.
Cândida Almeida é uma magistrada respeitada e com excelente currículo. A ironia não será o melhor caminho quando se fala de coisa tão séria como a Justiça, ou a politização de processos. Mas o que ela sugere merece que se medite, embora seja obviamente impensável colocar os magistrados sob escuta.
Terem ou não as declarações de Marinho e Pinto dignidade institucional é uma afirmação que fica com quem a profere. Marinho e Pinto é bastonário dos advogados. Há quem não goste dele e ele faz tudo o que parece dever ser feito se não quiser ser reeleito. Com coragem. E as suas declarações , sendo de alguém com muitos anos de barra de tribunais, também deveriam servir para que se meditasse. Pois se muitas investigações partem de uma denúncia anónima! E, note-se, algumas das suas mais graves declarações foram proferidas no Parlamento. Querem mais dignidade do que isso?
A Justiça não funciona. Julgávamos todos - nós, os leigos - que eram as más condições postas ao serviço de juízes, advogados, magistrados e funcionários as principais causas. Há quem diga que não são, em exclusivo. E vai crescendo a convicção de que possa haver quem não cumpra os seus deveres e não mereça o estatuto em que se move.
Numa altura em que atravessamos uma enorme crise política e em que o primeiro-ministro vive acossado por denúncias sucessivas não deveríamos suportar que a menor suspeita recaísse sobre quem tem precisamente de fazer justiça. Meter a cabeça na areia não é solução. Mas é a prática portuguesa mais comum em casos como estes. E essa prática está a levar-nos, na política, na economia, e a passos largos também na Justiça, para um beco sem saída.