A quadra natalícia é dada a mensagens pungentes de políticos com responsabilidades nacionais. Não sendo exceção, faz pouco tempo que António Costa, consagrado líder do PS, mas na Oposição, se dirigiu ao país para desejar venturas em relação ao ano novo que teria início. Na ocasião chamou a si a experiência como presidente da Câmara de Lisboa em matéria social e antecipou que faria diferença se fosse primeiro-ministro, na "solidariedade para os mais desfavorecidos, os desempregados, os doentes e os que vivem na solidão".
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Reeditou, lacrimejante, a conversa fácil usada em 2014 numa convenção organizada a propósito da campanha interna para as diretas do partido, quando confessou "saudades pelas políticas de António Guterres e José Sócrates no combate à pobreza extrema". A plateia rosa levantou-se emocionada com tamanho sentimento.
O tempo passou e o PS governa, apesar de derrotado nas urnas. Que sorte para Portugal.
Honrando as referências, António Costa repetiu Sócrates e defendeu que não se aumentassem as pensões mínimas, sociais e rurais - as pensões dos mais pobres dos pobres - sob argumento de que muitos não teriam baixos rendimentos.
O secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado, determinou por despacho em outubro que os hospitais e os centros de saúde tivessem de pedir autorização ao Governo para fazer qualquer tipo de investimento até ao fim do ano, incluindo para substituir o que se avarie ou repor o stock de medicamentos, acima de determinados valores.
Em dezembro, ficou a saber-se que em 2016 o Governo desperdiçou 28 milhões de euros do Fundo Europeu de auxílio às pessoas mais carenciadas, que obviamente deveriam ter sido utilizados num setor onde, por definição, falta quase tudo. Várias organizações humanitárias, justificadamente, denunciaram concursos por abrir ou regulamentar.
A bastonária da Ordem dos Enfermeiros denunciou haver no SNS um hospital onde os doentes estiveram dois dias sem alimentos e sem medicação e existirem espaços sobrelotados com 40, 50 e 60 doentes, em espaços vocacionados para 10 ou 12.
E num exemplo trágico, que vale por tantos outros, um homem de 68 anos, deficiente motor, que há meses pedia para ser institucionalizado num lar de idosos, morreu por hipotermia em Pombal, Alfândega da Fé.
António Costa explicou em entrevista que "governar é como conduzir. Se há mais trânsito, vamos mais devagar, se há menos, vamos mais depressa". Convirá, já agora, é que pelo caminho não deite os passageiros porta fora.
O que seria de nós sem a imensa sensibilidade social do PS.
* DEPUTADO EUROPEU