Bicho Brasil beleza
O jogo do bicho é uma imagem perfeita para os desejos e possibilidades do grande povo brasileiro - uma descrição perfeita dessa terra maravilhosa que vive entre o sonho e a sorte, a formalidade e a malandragem, a tecnologia e a tradição, a lei e o samba, a devoção e o Carnaval.
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Abusando da metáfora, o bicho compara-se a uma espécie de sudário do Brasil: uma sequência sobrenatural de imagens que vive no imaginário de todos e é mais antiga que qualquer ser humano ainda vivo na Terra.
Há um samba antigo que conta a história. Um marido chega a casa depois de ganhar no bicho. - Ganhei 500 contos, não vou mais trabalhar, você dê toda a roupa velha aos pobres e a mobília podemos quebrar. Isto é pra já, vamos quebrar, Etelvina, vai ter outra lua de mel.
Foi Kid Moringueira - o "último dos malandros" como Augusto Gonçalves chamou a Moreira da Silva - que escreveu esta canção que explica bem essa transa quase religiosa com que o povo aposta, em milhares de postos de gasolina e bancas de jornal de todo o Brasil, na interpretação dos seus sonhos.
Apesar de ilegal o bicho é uma instituição secular. Começou há 130 anos como uma "rifa", destinada a ajudar os animais do Zoológico do Rio de Janeiro, mas sobreviveu a ditaduras e prosperou em democracias, convivendo com todos os governos do Brasil.
Mas agora, se tudo der certo, o jogo do bicho vai passar de ilegal a regulamentado e a imensa massa monetária que hoje se aposta informalmente em milhares de locais em todo o país vai começar a entrar no sistema. Permitindo que o Estado brasileiro arrecade novas receitas fiscais e se gerem diversos postos de trabalho diretos e indiretos em inúmeros segmentos da economia. Nomeadamente os casinos. Que vão voltar ao Brasil.
*Especialista em Media Intelligence