Acredito que os bispos portugueses, neste momento, colocam a proteção das vítimas de abusos acima de qualquer outra preocupação. Estão empenhados em pôr fim a uma cultura de encobrimento que tem séculos. Por isso lamento tanto que não tenham conseguido comunicar essa determinação na conferência de imprensa de sexta-feira, tendo sido por isso fortemente criticados.
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Foram também mal aconselhados juridicamente. Tanto no que diz respeito ao direito civil como ao canónico. Em relação a este último, vincaram as condições para uma suspensão, quando deviam antes ter realçado que os bispos podem "tomar medidas de tipo administrativo contra a pessoa denunciada, que poderão levar a limitações no ministério", como recordou depois D. Nuno Almeida, bispo auxiliar de Braga. Ou seja: os bispos podem afastar preventivamente sacerdotes denunciados pela Comissão Independente.
É certo que os bispos terão de ponderar entre a preservação do bom nome dos acusados e a proteção das vítimas da continuação dos abusos. Mas isso não os impede de serem claros na defesa das vítimas. Mesmo que o afastamento dos denunciados envolva clérigos inocentes, será sempre melhor assegurar a proteção das vítimas.
Para um cristão - e muito mais para um padre -, ser acusado injustamente é sempre uma oportunidade para se configurar mais com Cristo, o Justo acusado injustamente. Não se pode apelar à identificação com Cristo para propor o celibato, e, depois, fugir dela quando se é chamado a abraçar a ignomínia e a loucura da Cruz.
A dificuldade dos bispos dialogarem com os média não é o fim do mundo - pior seria se estivessem mal-intencionados, que creio não estarem. A partir de agora, então, ajam como lhes recomendaria S. António: "Cessem as palavras e falem as obras!" Sigam as determinações da Igreja: afastem preventivamente os denunciados.
*Padre