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Ainda é cedo para nos atrevermos a proferir sentenças sobre a herança que Manuel Pizarro, o novo ministro da Saúde que hoje toma posse, vai deixar para a posteridade. Mas a sua escolha revela uma coisa óbvia: ao optar por um peso-pesado do partido, um médico experimentado que conhece muito bem as sensibilidades do setor, António Costa quis dizer ao país que não está disponível para nenhuma revolução numa área fundamental que navega em águas já demasiadamente agitadas. É, como vulgarmente se designa no jargão futebolístico, uma aposta política na continuidade. Pizarro é um profundo conhecedor das debilidades e potencialidades da Saúde (pública e privada), mas será mais ou menos bem sucedido em função do compromisso a que estiver obrigado com o caderno de encargos pré-estabelecido pelo primeiro-ministro no início do mandato. Ou seja, não sendo de antever uma rutura, é de esperar, pelo menos, que a entrada de um novo protagonista num universo tão atreito a conflitos e naturalmente complexo venha acompanhada de alguma frescura programática. Que Manuel Pizarro tenha garantido uma liberdade mínima de movimentos para poder fazer diferente de Marta Temido. Com mais pragmatismo e organização e menos ideologia e preconceito em relação ao setor social e privado. Caso contrário, terá um reinado curto.
A Saúde tem múltiplas urgências, e certamente que conter a animosidade dos protagonistas mediáticos do setor é uma delas, mas, não sendo previsível que mais milhões assomem à janela do ministro, o foco de Manuel Pizarro deve estar na necessidade de reorganizar e redistribuir os recursos humanos e financeiros que tem à sua disposição para poder servir dignamente os portugueses. Dito assim, até parece fácil. Não é. É tremendamente difícil. Ainda para mais num contexto económico de enorme fragilidade, com os hospitais financeiramente exangues, e num quadro estratégico em que o ministro terá de conviver com um diretor-executivo do SNS que será o motor do novo estatuto do Serviço Nacional de Saúde.
Por agora, num país com mais de um milhão de cidadãos sem médico de família, onde as grávidas dão com o nariz na porta das maternidades e onde há largos milhares de cidadãos que esperam anos por uma cirurgia, só podemos desejar uma coisa a Manuel Pizarro: boa sorte e muita Saúde. Assim mesmo, com maiúscula.