Corpo do artigo
Finalmente, os governantes começam a perceber que também são cúmplices da selva digital que são as redes sociais. Que encolheram os ombros a um espaço onde as crianças não estão seguras, onde algoritmos viciam, onde o bullying se infiltra, onde o crime se esconde.
O primeiro-ministro da Nova Zelândia afirma-o sem rodeios: "Temos restrições para manter as nossas crianças seguras no mundo físico, mas não temos restrições no mundo virtual. Devíamos ter". Por isso, prepara-se para proibir o uso de redes sociais a menores de 16 anos. Austrália, Alemanha, China, Espanha, França, Itália e Noruega também erguem escudos para proteger os mais novos, face ao fracasso das medidas de proteção promovidas pelas plataformas. As mesmas que permanecem impunes quando permitem um direto de um massacre ou a difusão de vídeos de violações.
Os estados têm obrigação de agir? Têm. Da mesma forma que criam legislação para que os mais novos cresçam seguros no mundo físico, têm o dever de garantir o mesmo no mundo digital.
Em Portugal, a discussão é superficial. À custa da campanha eleitoral, conhecemos o pensamento dos partidos sobre o tema. Também ele tímido. AD, PS, CDU, BE, PAN e Livre defendem limites. Já o Chega e a IL acham que essa é uma tarefa da família.
A obrigatoriedade de verificação da identidade parental e a responsabilização direta das empresas tecnológicas pelos abusos cometidos nas suas plataformas deveriam estar no centro do debate. Não podemos continuar a largar as crianças no mundo digital e desejar-lhes apenas "boa sorte".