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No exato momento em que o PS derrotado nas urnas ascendeu ao poder, a responsabilidade política que seria suposto esperar-se de quem governa, colapsou. Não importa a gravidade do que suceda, tão-pouco a evidência do que falhou. Nos tempos que correm, relativiza-se essencialmente tudo, preocupante ou dramático que seja, mesmo se nas áreas de Estado e de soberania. Não há culpados, eis a regra. Primeiro o partido. E só depois a nação. Dá pena.
Quando o fogo se abateu sobre Portugal vitimando 64 pessoas, já se conhece muito do que correu mal, do SIRESP à coordenação da Proteção Civil, dirigida por uma escolha de António Costa, contra o parecer de generais, e se assiste a entidades que se acusam, todas tuteladas por uma ministra desautorizada, incapaz de impor a ordem e exigir respostas, o primeiro-ministro, revelando a exata escala de muitas prioridades, pediu a um "focus group" que fosse medido o impacto da tragédia, na sua popularidade.
E quando em Tancos, de uma base militar de um país ocidental, que é membro da NATO, para surpresa e pânico do resto da Europa, que se esforça por combater o terrorismo como pode, foi furtado armamento pesado, ou especialmente letal - granadas de mão ofensivas, granadas foguete antitanque e explosivo plástico - e oficiais se propõem protestar, depositando espadas no Palácio de Belém, António Costa foi de férias e ainda não voltou.
Convirá recordar que na presente legislatura, este caso, apresentado como insólito, teve precedente. Em fevereiro, 57 pistolas Glock, com carregadores e munições de 9 mm foram furtadas de um armazém da PSP. A ministra da Administração Interna admitiu ao tempo "falhas na área da supervisão e controlo" e garantiu consequências. Quais?
Sabe-se sim, que apesar de tudo somado, Constança Urbano de Sousa se mantém no lugar e que Azeredo Lopes, depois de comentar que cabe ao ministro da Defesa "alocar ao Exército a função de garantir a segurança de instalações militares", assumiu a "responsabilidade política", mas não retirou dela a única consequência, também política e em condições normais, necessariamente inevitável.
Augusto Santos Silva, com o primeiro-ministro "a banhos", chamado a comentar as demissões do ministro da Defesa e da ministra da Administração Interna, pedidas pela presidente do CDS, Assunção Cristas, disse a propósito que ambos, "evidentemente, estão à altura do atual Governo". Tem toda a razão. Estão à altura do atual Governo. Infelizmente, o atual Governo é que não está à altura do país. Triste sorte.
* DEPUTADO EUROPEU