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O nosso sistema educativo continua doente, reproduz desigualdades sociais, assimetrias regionais e pode até reforçá--las. Revelam um país a várias velocidades, contrário ao direito à igualdade de oportunidades: quem tem mais e melhores condições (de organização, de gestão, de recursos) tem mais e melhores resultados. Quem tem menos, menos tem. Há boas notícias? Há: a tabela de avaliação das escolas, que hoje publicamos, mostra médias a subir, depois de quatro anos a descer. Voltámos à positiva. E as melhores subidas são nas escolas públicas, ainda que a primeira apareça no 30.0º lugar da tabela.
Mas não nos iludamos: o ranking respeita muito mais à classificação dos alunos nos exames finais do que às escolas. Essas sim, deveriam ser avaliadas no seu contexto social e tendo em conta os recursos disponíveis, a governança de cada uma, as práticas pedagógicas, o efeito professor...
Escolas privadas continuam a dominar o topo da tabela. A melhor classificação, este ano, é de uma escola de Lisboa, a Manuel Bernardes, tutelada pela diocese, enquanto a melhor escola pública, a Secundária do Restelo é, também, a melhor na disciplina de Matemática.
No fundo da tabela, o costume: são escolas no interior do país ou em áreas suburbanas do Porto e Lisboa, alunos pobres, de pais pobres e pouco escolarizados. Os piores resultados encontramo-los em Mesão Frio, no Douro, distrito de Vila Real. Pior desempenho só mesmo a escola portuguesa......na Guiné-Bissau.
É preciso, é urgente, inverter este ciclo que nos diminui e humilha. Porque o preço da excelência é o da formação e do trabalho, mas o custo da mediocridade é a deceção.
É ao Governo, aos governos, que temos de responsabilizar e exigir mais, através de políticas mais eficazes de discriminação positiva. Porque é aos governos que compete orientar a aplicação do muito dinheiro que as famílias lhes entregam todos os anos para a educação escolar. Não queremos mais comando centralista, via "Diário da República". O que precisamos, e merecemos, é de um sistema educativo mais adulto, mais radicalmente descentralizado, mais autónomo e mais inscrito nos territórios sociais, culturais e económicos onde as escolas estão inseridas. É pedir muito?!