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A onda de indignação gerada por bandas como os Kneecap e Bob Vylan (que vai passar em breve por Portugal) é um sintoma dos tempos estranhos que vivemos, em que a palavra parece mais danosa do que a ação. Ambas as bandas são alvo de investigação por apoiarem a causa palestiniana em concertos, supostamente incitando à violência. No caso dos Bob Vylan, o crime foi cantar "Palestina livre" e "morte às forças armadas de Israel", na atuação do festival de Glastonbury, em Inglaterra, no dia em que foi divulgado um trabalho no jornal israelita "Haaretz", em que militares revelavam ordens para matar palestinianos à procura de comida. Crimes hediondos - os da banda, claro - e que chocaram a opinião pública britânica, levando a pedidos de desculpa, ao cancelamento de concertos e a problemas judiciais. No caso dos Kneecap, Mo Chara é mesmo acusado de terrorismo, por alegadamente ter exibido uma bandeira do grupo terrorista Hezbollah. Só uma sociedade a apodrecer consegue censurar de forma mais severa as palavras de artistas, do que os tiros que fazem mesmo derramar sangue no chão.