Jakelin tinha sete anos. Fugiu da pobreza e da violência na Guatemala com o pai, Nery, em direção à terra prometida. Uma jornada de milhares de quilómetros que incluiu uma travessia de deserto entre o México e os EUA.
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Jakelin cruzou a fronteira a uma quinta-feira deste mês. Dois dias depois, talvez por desidratação, talvez por fome, talvez pela dureza da viagem, morreu. Tornou-se um símbolo das condições desumanas em que decorre a migração de tantos milhares de crianças centro-americanas que querem chegar ao país mais rico do Mundo. A Jakelin já não lhe podemos desejar bom Natal.
Kenyerber Merchán tinha 17 meses. Nasceu saudável, mas a mãe, Maria, foi infetada pelo vírus zika quando o filho tinha apenas três meses. Os médicos disseram-lhe que não podia amamentar. Foi o equivalente a uma sentença de morte. Na Venezuela, o leite em pó para bebés tornou-se um bem quase inacessível. Kenyerber transformou-se, ainda no ano passado, num dos símbolos da derrocada económica e política do país com as maiores reservas mundiais de petróleo confirmadas. Também já não lhe podemos desejar bom Natal.
Amal Hussein tinha sete anos. Os bombardeamentos sauditas forçaram a sua família a fugir de casa há três anos. Tornou-se o símbolo da fome no Iémen quando um jornalista a fotografou num hospital, só pele e osso, em novembro passado. A imagem comoveu meio mundo, mas era tarde para Esperança (o significado de Amal em árabe). Ainda doente, mandaram-na de volta para o campo de refugiados. A mãe não tinha como a levar a outro hospital. Morreu três dias depois. A Amal já não lhe podemos desejar bom Natal.
Jakelin, Amal e Keneyerber são três entre milhões de crianças que sofrem os efeitos da violência política e económica. Todos os dias, incluindo no Natal. A "Save the Children" alertava, em setembro passado, para um novo normal: o uso da fome como arma de guerra. E estimava que até ao final de 2018 morreriam de fome mais de meio milhão de crianças. O ano que agora está a chegar ao fim... Bom Natal? Para quem?
Chefe de Redação