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Mais de dez meses depois, Espanha volta esta semana a ter um Governo em plenitude de funções. No fim de um processo que poderia ter implodido a unidade do reino e abalado fortemente a economia, a estabilidade e as instituições saíram vencedoras. Para variar, uma história com final feliz.
Ao contrário do sucedido por cá, o resultado das eleições gerais espanholas de dezembro de 2015 e de junho de 2016 não foi uma geringonça. Por maior que fosse essa a vontade dos movimentos radicais de Esquerda e de parte do Partido Socialista, os moderados ao centro - e por centro leia-se aqui Ciudadanos e Partido Popular -, não o permitiram.
Resultado prático: mesmo passando quase um ano em modo de Governo de gestão, o desemprego diminuiu, descendo até abaixo da histórica fasquia dos 20 por cento, e a economia retomou o crescimento acelerado (mais de 3 por cento no final do ano, a fazer inveja a meia Europa).
Consequência prática: a defenestração de Pedro Sánchez, o líder socialista ingloriamente obcecado pelo poder, substituído por uma comissão de gestão que começa a tentar salvar o que resta das cinzas de um desacreditado PSOE.
Em Espanha, a estabilidade e o bom senso, é certo que a custo, prevaleceram sobre os movimentos radicais ditos da cidadania e sobre o oportunismo dos separatistas regionais. As instituições funcionaram e o poder da coroa, naquela que foi uma súbita e enorme prova de fogo de Felipe VI, saiu altamente reforçado na sua popularidade e influência.
Mas ganhou igualmente um partido velho (o PP), um líder com paciência de santo e resiliência desconhecida (Rajoy) e um partido novo e reformista (o Ciudadanos), que tem em Albert Rivera um dos políticos europeus de maior futuro.
Com o fim do impasse, Espanha tem agora um Governo minoritário e uma ambiciosa agenda de mudança e de desenvolvimento. O que significa que vamos continuar a ter boas notícias dos nossos vizinhos mais próximos.
A estabilidade política, em Espanha como (apesar de tudo) em Portugal, é garantia de crescimento económico. Com geringonça ou sem geringonça, trata-se do maior ativo político que de momento podemos ter.
Uma nota para lamentar profundamente a morte, precoce e brutal, do Manuel Sampaio Pimentel, com quem estive em tantas batalhas, quase sempre do mesmo lado, e que recordo como um exemplo de frontalidade, de coragem, de liberdade e de desprendimento. Um homem de antes quebrar que torcer. O Porto perdeu um cidadão excecional.
EMPRESÁRIO E PRES. ASS. COMERCIAL DO PORTO