A bolsa de Santiago abriu na segunda-feira em queda, em reação à vitória de Gabriel Boric, o antigo líder estudantil, agora eleito presidente do Chile. Curiosamente, ou não, a mesma bolsa abriu em forte alta no dia seguinte à primeira volta das presidenciais chilenas. Nesse dia, José Antonio Kast, o candidato de extrema-direita, saudosista assumido do ditador Augusto Pinochet, partia em vantagem para a segunda volta.
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Os mercados estão, portanto, muito descontentes com a opção do povo chileno e isso pode ser um sinal dos tempos difíceis que se aproximam. Não será um cenário novo: quem pretende que tudo fique na mesma, tudo fará para dificultar a vida a Gabriel Boric - o líder nascido dos protestos populares que levaram o Chile para a rua, no outono de 2019, e só a pandemia o fez voltar para casa.
Foram essas pessoas que agora levaram Boric ao poder, acreditando que algo poderá mudar no Chile. Os mesmos que desejam reverter a política levada a cabo por Pinochet - depois do sangrento golpe de estado, que assassinou Salvador Allende, democraticamente eleito, a 11 de setembro de 1973 - e que se mantém no essencial, décadas depois, embora o país viva em democracia.
Os mercados reagiram mal à vitória de Boric, como reagem mal sempre que há um sinal de que certas privatizações podem ser revertidas, o acesso à educação e saúde aberto à maioria da população, as riquezas do país geridas pelos seus cidadãos. Foi com a proposta de tornar público o sistema de pensões, promover o investimento à custa da subida dos impostos para os rendimentos mais altos, a regulação da extração mineira, sobretudo do cobre, e a reversão da privatização da água que Boric conquistou a maioria do povo do Chile. Não tardarão a surgir os fantasmas de uma qualquer crise, o que não constitui novidade para os chilenos, como também não é para outros povos da América latina.
*Editora-executiva-adjunta