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O drama dos refugiados que, fugindo ao terror do Estado Islâmico, acorrem à Europa em busca de uma vida melhor, é não apenas um desastre social quase sem precedentes como o grande debate que a civilização moderna tem que enfrentar.
O êxodo dos migrantes não é um problema ideológico nem uma questão política. A interrogação que se coloca ao Mundo é saber que sociedade queremos ser? Que princípios e valores devem nortear a ação dos estados perante a barbárie e o desespero de povos confrontados com a total ausência de futuro?
Embora o terror seja espalhado na Síria invocando um nome de um Deus, muito menos a questão é religiosa, racial ou cultural. O murro que atinge o estômago da sociedade ocidental, multiplicado pelas histórias trágicas e pelas imagens que não julgámos serem possíveis em pleno século XXI, decorre daquela interrogação. Vamos deixar que isto continue a acontecer? Ou vamos ser dignos do desenvolvimento que proclamamos para nós?
Portugal deve ter um papel ativo na política europeia de acolhimento dos migrantes. Somos um país pequeno e não poderemos receber tantos refugiados como a Alemanha, do mesmo modo que não dispomos das condições de integração oferecidas pela França. Temos, porém, uma história de defesa dos direitos humanos e uma longa experiência de inclusão de comunidades expatriadas.
Portugal recebeu os retornados de África, a seguir ao 25 de Abril. O país, da melhor forma que foi capaz, mobilizou-se para integrar os milhares de cidadãos nacionais que regressavam à pátria, muitas vezes depois de terem perdido tudo o que tinham.
Nos anos 80, acolhemos uma imensa vaga de imigração proveniente do Brasil, que procurava entre nós uma vida melhor, instalando-se sobretudo em Lisboa e no Porto. Mais tarde, após a derrocada da União Soviética, recebemos milhares de cidadãos das repúblicas do Leste, em especial da Ucrânia, em busca de trabalho e de uma nova esperança. Gente trabalhadora e qualificada, que alcançou em Portugal o reconhecimento do mérito.
Estivemos sempre à altura do desafio. Agora somos chamados a transformar esse património social em ações concretas. Com a iniciativa e a capacidade mobilizadora da Igreja Católica, com o envolvimento da sociedade civil, das empresas e das comunidades, Portugal saberá de novo acolher e distinguir-se como país de paz, de respeito pela diferença, de acolhimento solidário e de integração harmoniosa. Do Estado espera-se apenas que ajude a criar as condições necessárias para que este grande movimento humanitário possa funcionar.
Com a iniciativa e a capacidade mobilizadora da Igreja Católica, com o envolvimento da sociedade civil, das empresas e das comunidades, Portugal saberá de novo acolher e distinguir-se como país de paz, de acolhimento solidário e de integração harmoniosa