Brasil contra Brasil
A primeira rutura na sociedade brasileira acontece logo nas preferências culturais. De um lado o sertanejo que arrasta multidões, do outro, teatro, música e outras manifestações e eventos LGBTQ+ que alimentam a criação de imensas minorias.
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Os dois extremos não só não se comunicam, como se odeiam; o resultado é o aumento de um enorme vazio a meio, onde a qualidade e a virtude cada vez mais escasseiam, formando um donut cultural onde o "buraco" é cada vez maior e o "bolo" mais pequeno.
No show dos cantores Zézé di Camargo e Luciano, milhares de pombinhos, de todas as idades, vibravam com a métrica simples das letras que em Portugal se chamariam pimba e no estádio do Pacaembu, no coração de S. Paulo, milhares de "caipiras" celebravam apaixonadamente o dia dos namorados
Ali perto, no SESC Pompeia, ao lado da exposição "Amazônia", do fotógrafo Sebastião Salgado, um espetáculo de teatro inconvencional, em que não se celebrava data nenhuma, os atores apregoavam, também apaixonadamente, a urgência necessária da diferença - em não ser binário, nem monogâmico, nem heterossexual.
De um lado, um Brasil rural (caipira), muito tradicional e religiosamente devoto; muitas vezes evangélico, apregoando-se temente a Deus e patriota. Do outro, um Brasil urbano, disruptivo, plusissexual, professamente ateu e alternativo. Os dois não se falam.
Como este ano vai haver eleições (em outubro) e os ânimos políticos estão ao rubro, a incompatibilidade entre estas duas metades do país é mais notória, mas na verdade a proximidade da escolha entre dois homens mais rejeitados que amados para presidente apenas vem sublinhar uma questão maior. O que será mais que o amoooor... a mexer com estas cabeças e a deixá-las assim?
*Presidente da Associação Portugal Brasil 200 anos