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Os resultados surpreendentes da primeira volta das eleições presidenciais brasileiras não deixam antever apenas um duelo com data marcada para o próximo dia 26. Na segunda volta da ida às urnas, a estafada presidente Dilma Rousseff e Aécio Neves, a quem muitos passaram uma precipitada certidão de óbito política, vão protagonizar mais uma renhida disputa entre o PT e o PSDB. E provar, assim, que pouco ou nada mudou na sociedade brasileira nos tempos mais recentes. O senhor (ou a senhora) que se segue na cadeira do poder no Palácio do Planalto de Brasília vai voltar a sair do tradicional sistema bipolarizado brasileiro que dirige o país há anos e anos.
A contagem de votos no domingo provou igualmente a fragilidade de epifenómenos como o de Marina Silva, a ambientalista que muitos acreditaram (mais fora do que dentro do Brasil, é agora ainda mais claro) poder protagonizar a rutura com um sistema político manchado por esquemas corruptos. A intenção não passou das sondagens.
Num país imenso como o Brasil, entre a opção incerta de uma candidata caída do nada e o certo dos suspeitos do costume, o eleitorado não teve dúvidas. E Marina Silva ainda só é uma carta no baralho político porque do seu apoio dependerá, em parte, a eleição do próximo presidente brasileiro.
Por tudo isto e apesar da surpresa Aécio Neves (que contará para a segunda ronda eleitoral com o previsível e precioso apoio da derrotada Marina), é pouco prudente vaticinar já a derrocada de Dilma Rousseff. A sucessora de Lula da Silva, que concorre a um difícil segundo mandato, ainda controla a poderosa e influente máquina do PT. E tal como Marina se eclipsou num ápice, Dilma pode emergir pelas razões inversas. Isto é: sondagens recentes mostram que o eleitorado brasileiro quer efetivamente a mudança. Mas ao ser confrontado com as alternativas também acredita - talvez até paradoxalmente - que só uma mão firme como a de Dilma pode manter o país no rumo do desenvolvimento que tem permitido tirar muitos brasileiros da pobreza e colocá-los na nova classe média que ambiciona uma miríade de oportunidades.
Dilma não está só na perseguição destes objetivos. A capacidade de colocar os brasileiros "a sonhar", com "decência e eficiência" tem sido reclamada por Aécio Neves. E é mais do que certo que o candidato do partido de Fernando Henrique Cardoso continue nesta linha de apelo ao voto. Se o fizer como o fez até agora - com tranquilidade, sem ataques pessoais nem violência verbal desmedida -, talvez o candidato social-democrata volte a surpreender. É que as ideias podem não ser propriamente alternativas, mas se a forma de as levar até ao eleitorado o for, é provável que isso chegue para ganhar. E o povo brasileiro acaba de mostrar que sabe bem o que quer.