A situação política e social no Brasil é preocupante e assustadora. Chegou o fim da linha para um regime incapaz de se regenerar por dentro e totalmente desacreditado para fora. Dói e custa ver um dos países mais ricos do Mundo comprometer a esperança de um futuro próspero. A salvação parece estar numa República de juízes.
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Por motivos profissionais, estou bastante ligado ao Brasil, onde tenho negócios e para onde viajo com regularidade. Acompanho de perto os dramas da política brasileira e os seus trágicos impactos na vida quotidiana dos cidadãos e na atividade empresarial. Por outro lado, tenho vindo a contactar com frequência com brasileiros para quem a paciência acabou. Estão a mudar-se para o nosso país e é aqui que querem trabalhar e viver em tranquilidade e segurança. Realço que se trata de imigração altamente qualificada, com formação muito elevada e forte capacidade investidora. Capaz, por si só, de acrescentar riqueza e valor significativos à economia portuguesa.
O Brasil é o quinto país do planeta (com uma área pouco inferior à da Europa) e a sétima economia mundial. É um país autossuficiente, com um potencial várias vezes maior do que a riqueza disponível. Sucede que anos e anos de classe dirigente maioritariamente corrupta e de irresponsabilidade nas políticas públicas (veja-se a queda de 7% do PIB nos últimos dois anos) conduziram o país a um beco sem saída aparente. O Brasil só não chegou à calamidade pré-guerra civil em que se encontra a Venezuela porque a sua economia dispõe de um setor privado muitíssimo forte. De resto, tudo é hoje o perfeito contrário da "Ordem e Progresso" que a sua celestial bandeira ostentam.
Com mais um presidente prestes a ser destituído, um "ex" próximo da prisão e na ausência de alternativas sérias - nem senadores como Henrique Cardoso ou Sarney inspiraram confiança entre os cidadãos -, percebe-se que a reforma do regime não virá nem dos políticos nem dos partidos. O regresso ao poder militar não parece estar, felizmente, em equação. E os únicos detentores de credibilidade e prestígio são os juízes.
Sérgio Moro, o juiz que lidera o "Lava Jato" e é visto como um herói nacional, lidera várias sondagens para as presidenciais. Conhecemos más experiências de participação de juízes na política (Di Pietro, em Itália, ou Garzón, em Espanha, por exemplo, destruíram o capital de seriedade que tinham granjeado na profissão de origem). Não obstante, acredito que o futuro próximo do Brasil estará realmente num Governo de juízes, capaz de levar a cabo a refundação do regime de que o país tanto necessita. Pior do que está não fica.
EMPRESÁRIO E PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO PORTO