A elevada mediatização da recente visita do presidente do Brasil escondeu ou deu menos visibilidade a alguns sinais que merecem um registo positivo. Destes, destaco a dimensão e a qualidade da comitiva presidencial, quer no que se refere a membros do Governo e altos quadros da administração pública, quer quanto a responsáveis de empresas de referência.
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Acresce, e no mesmo sentido, o expressivo número de acordos e protocolos assinados entre entidades portuguesas e brasileiras, durante esta visita de Estado.
Julgo que todos partilhamos a ideia de que aquele é um mercado de elevado potencial de que, por razões de muita e variada ordem, não temos sabido, ambos os lados, tirar o devido partido.
Com efeito, e tomando o caso da saúde, as nossas trocas comerciais não têm tido expressão, situando-se abaixo dos 10 milhões de euros anuais, o que representará qualquer coisa como menos de 0,5% das nossas exportações. O Brasil não figura entre os nossos 20 maiores parceiros comerciais nesta área.
Por outro lado, e mantendo-me na área da saúde, a penetração de produtos de origem brasileira no mercado português e no mercado europeu é igualmente baixa, porventura por razões análogas às que têm condicionado o nosso desenvolvimento comercial naquele país, a que se juntará uma forte orientação para o mercado interno, tendência que se pode justificar pela sua dimensão.
Parece assim haver, para os dois lados, um elevado potencial numa dinamização da colaboração em saúde que manifestamente não pode ter apenas suporte na partilha da mesma língua.
Então o que falta? Julgo que falta praticamente tudo!
Começaria pela vontade e pelo empenho. Ambos os lados têm de querer. Não só os governos e as autoridades públicas, mas as empresas e os agentes que estão no terreno.
Depois, diria que os avanços terão de ocorrer, desejavelmente de forma articulada, nos vários patamares da cadeia de valor: entre os governos e entre os reguladores; entre as universidades e os institutos de ciência; entre os hospitais e as comunidades de prestadores de cuidados; e, naturalmente, entre as empresas, desde as farmacêuticas até às do dispositivo médico, passando, com particular enfoque, pelas associadas à "digital e smart health".
Teremos de construir amarras e âncoras, mais ou menos institucionais, mais ou menos formais, mas muito ligadas ao terreno, ou melhor, aos vários terrenos em que a saúde se desenvolve.
Vamos ter de controlar os ímpetos imediatistas, que podem e devem ter lugar, mas sem abafar a visão e as apostas de médio e longo prazo.
As relações na saúde são muito difíceis de construir e levam mais tempo do que noutras realidades. A vantagem é que, uma vez estabelecidas e consolidadas, perduram e têm um efeito de arrasto sobre outros setores.
O desafio merece atenção e pode valer a pena esta aposta!
Diretor-executivo do Health Cluster Portugal