O que urge agora é que a União Europeia revele a sua coesão, essa vontade inequívoca de ser um projeto de convergência que sonha construir uma igualdade sempre maior entre todos os cidadãos que a compõem.
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Se o Reino Unido reitera a vontade de se demarcar desta convergência, à Europa só resta respeitar sublinhando, ainda assim, o repúdio pelo abandono, reafirmando-se pela convicção no seu propósito superior de se organizar como um todo sem fronteiras. Os britânicos nunca quiseram estar demasiado unidos. Agora precisam, a todo o custo, ser rigorosamente apartados. Portugal, que será um dos países mais prejudicados com tal insensatez, terá de se fortalecer e julgo que competirá à União obviar os casos dos mercados que serão mais violentados.
Boris Johnson, no seu discurso de vitória, alude a um ponto fundamental, diz que poderão agora encontrar uma resolução e começar a sarar de tudo quanto têm passado e implica o Brexit. De facto, na abstração em que viveram nos últimos anos foi criada uma tormenta contínua e sem fim à vista. A oposição não faria mais do que prolongar até à agonia o estado de indefinição. Parece que apenas estes brutos oferecem o que as pessoas querem hoje, uma decisão clara, imediata, sem mais tretas.
A oposição acreditou que o interessante seria debater temas de fundo, como a importância de um Serviço Nacional de Saúde ou a distribuição de fibra ótica grátis por todo o país. Na verdade, para os eleitores não havia outro tema senão o Brexit e a necessidade de se escolher alguém que, num gesto só, acabe com o assunto. O cansaço, não tenho dúvidas, aumentou o número de pessoas a favor da saída. Não por serem avessas à União Europeia, mas por estar expressa a inconsequência das negociações sem termo que seguiriam a perturbar a atualidade britânica.
De certo modo, ganharam os brutos porque os brutos afirmam que vão fazer e tornam-se credíveis para tal. Os educados, na contemporaneidade cada vez mais cínica, anunciam sobretudo intenções, como se lidassem com futuros improváveis e sempre ajustados à medida. O cidadão de 2019 não prevê mais futuro do que uns escassos meses, ou até semanas. A sociedade muda a cada dia, caduca tudo, as pessoas importam-se com as soluções do instante, mesmo que à espreita esteja a degradação inteira do humanismo. De qualquer maneira, já poucas pessoas se sentem à altura de sonhar com isso, o humanismo, que à pressa se extingue.
Que saiam. Mas que saibamos nós segurar a União, a ideia mais brilhante que este continente algum dia soube ter.
*ESCRITOR