Em fevereiro de 2016 elenquei dez argumentos aduzidos por um amigo inglês, fervoroso adepto da saída do Reino Unido (RU) da União Europeia. Na altura, achei que nos ajudavam a pensar com mais clareza.
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Um destes dias falei-lhe de novo. Continua a faltar clareza ao debate sobre o tema e parecemos todos, pelo menos por cá, perigosamente adormecidos. Deixo, de novo, o que me diz:
"1. Apesar da contínua oposição por parte daqueles cidadãos britânicos que não concordam com a saída, o Brexit é uma realidade e a maioria já não o contesta.
2. Criou-se um problema artificial, com o resultado da ação judicial que obriga os termos da saída do país da UE a passar pelo Parlamento. Como só no final das negociações se conhecerão os termos exatos da cisão, o resultado da votação é, em grande medida, indeterminável, sobretudo se considerarmos que a diferença, do lado da maioria, é de apenas 18 deputados.
3. Por isso Theresa May decidiu convocar eleições gerais para 8 de junho. O estado frágil da Oposição parece poder garantir um expressivo reforço dos Conservadores.
4. Apesar de ter dividido a sociedade britânica, a pressão vem do exterior (o caso escocês é muito amplificado pelos média) e tem como objetivo reforçar o que é, na realidade, uma posição negocial frágil (do lado da UE):
- se a UE inviabilizar um tratado de livre comércio com o RU o país negociará com qualquer deles ao abrigo das regras do World Trade Agreement;
- os 50 mil milhões de libras que a UE anunciou como dívida do RU por obrigações supervenientes não têm fundamento em qualquer documento legal nem existe qualquer tribunal "independente" habilitado a dirimir a questão;
- a única falha do documento de duas páginas que permite a ativação do artigo 50 foi a assunção de que Gibraltar, como protetorado britânico, também sairá da UE o que, no limite, será mais uma carta a jogar pela UE (e Espanha) nas negociações;
5. Do ponto de vista económico, e contra todas as previsões calamitosas, o investimento estrangeiro, a confiança dos consumidores e o GDP subiram, desde o referendo. O FMI acabou de melhorar as suas previsões para o RU afirmando que o país terá o mais elevado crescimento do G20 em 2017.
6. 17 das 19 previsões feitas pelo ministro das Finanças ao tempo, George Osbourne, não se concretizaram".
Os britânicos estão a construir um caminho de não retorno. O meu amigo inglês, apesar de expatriado no continente e com a expectativa de ter de fazer face a consequências financeiras preocupantes, não mudaria, nunca, o seu sentido de voto.
Todos parecem, portanto, saber o que fazer. E nós? Any idea?
ANALISTA FINANCEIRA
