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Tenho um amigo britânico que é fervorosamente a favor da saída do Reino Unido da União Europeia. Depois de o ouvir, fico a pensar que a generalidade de nós (sobretudo os dos países mais pequenos) só não concorda porque tem medo dos efeitos desestabilizadores desta saída e tem medo de, por sua vez, exigir o que gostaria de ver alterado na sua própria relação com a União. O medo é respeitável mas não pode acabar com a lucidez na análise dos argumentos.
Aqui ficam 10 desses argumentos, na esperança de que nos deixem a refletir antes de emitirmos uma opinião:
1. A União Europeia é antidemocrática. As leis são feitas por funcionários não eleitos que as fazem aprovar por um Parlamento Europeu sem autonomia efetiva;
2. O Governo da União não pode ser deposto nem tem oposição;
3. O Reino Unido não chegou à União Europeia em processo de libertação de regimes comunistas, não viveu sob regimes fascistas nem ditaduras prolongadas e não foi, nunca, um país ocupado;
4. O Reino Unido tem, de facto, uma comunidade internacional alternativa à União europeia; chama-se Commonwealth, une 53 países e conta 2,2 mil milhões de pessoas originais de comunidades multi-étnicas;
5. 90% da atividade económica do Reino Unido é gerada fora da União. No entanto, 100% da sua atividade comercial é regulada pela EU;
6. O Reino Unido tem assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas, é a maior praça financeira do Mundo, a quinta maior economia e a oitava potência industrial. No entanto, não tem poder de negociação bilateral na Organização Mundial do Comércio;
7. O Reino Unido é o maior cliente da Eurozona. A pergunta é se, para isso, tem de continuar a pagar 55 milhões de euros por dia?
8. O Reino Unido não quer e não concorda com uma política de defesa única e muito menos com a ideia de um exército europeu. Movimentos como o desafio às fronteiras russas que culminaram com a crise na Crimeia dão-lhes razão. Alegam ter a moral de quem historicamente provou estar disponível para defender os mais altos valores civilizacionais do Ocidente sem fazer parte de nenhuma macroestrutura para além da NATO.
9. A passagem de 30 mil emigrantes por ano (até 1997) a 636 mil registados (entradas) em 2015 obrigam o país a sobre-endividar-se para poder arcar com as prestações sociais associadas. Requer, assim, o direito de, tendo que escolher, privilegiar o apoio aos seus nacionais.
10. O referendo de 1975 perguntava se queriam continuar no Mercado Comum. Não delegam em ninguém a decisão de passagem para uma União Política.
Ou seja, têm mais medo de perder a democracia do que de falir. E nós?