German Efromovich parece-me coberto de razão quando diz estar perplexo com o facto de o Governo português ter decidido não fechar o processo de venda da TAP por ele [Efromovich] não ter apresentado as garantias bancárias inerentes aos compromissos financeiros, e outros, do negócio.
Corpo do artigo
O empresário brasileiro define a sua perplexidade numa pergunta simples e óbvia, à qual o Governo português ainda não respondeu: como podia eu garantir a minha parte de comprador se o vendedor ainda não tinha assumido a sua?...
... Como já se foi sabendo, esta história já tem aspetos tão picarescos como o de em pleno Conselho de Ministros ainda ter ocorrido algum mercadejar ou o de Efromovich ter tornado público que já tinha viagem marcada para Lisboa no próximo dia 27 para assinar o contrato de compra da TAP.
Aqui chegados, virando e revirando o processo, podemos concluir que um negócio borregado em pleno Conselho de Ministros só pode ser consequência de uma bodega pouco profissional. Alguém andou a brincar aos aviões. Só falta saber quem e como é que o primeiro-ministro vai atuar em função do seu compromisso com o rigor, a transparência e o trabalho eficiente que tem defendido para marca do seu Governo.
Não se pense, porém, que a bodega da TAP é uma enrascada à portuguesa. E que só em Portugal poderia acontecer. Infelizmente, a desregulação dos negócios está globalizada.
Não vai há muito tempo que o Goldman Sachs era considerado um dos maiores bancos de investimento do Mundo, consagrado revendedor do Tesouro dos EUA, conselheiro financeiro ao qual recorriam governos, grandes empresas e famílias poderosas sempre que os temas eram fusões, aquisições e subscrições ou aplicações financeiras.
Hoje sabemos que, apesar de dispor de uma bateria de técnicos, gestores e administradores de topo no mundo da banca e da política, há muito boa gente a arder com os dislates de alguns conselhos do Goldman Sachs. Por exemplo, o Governo grego que aceitou operações que desvirtuaram as suas contas públicas e esconderam a real dimensão do seu défice.
O caso grego é apenas a ponta emersa de um icebergue que permanece como ameaça: o desgovernado mercado global de futuros e derivados, que a crise acabou por batizar como produtos especulativos. Muitos dos quais, como sabemos, já degenerados em lixo financeiro e arrastando bancarrotas por esse mundo fora.
Pior é que ninguém parece saber ao certo a quanto montam estes produtos especulativos: fala-se que podem somar 600 biliões de dólares, no mínimo. Como a riqueza mundial produzida por ano andará pelo 70 biliões, brincar aos futuros e derivados é brincar com o Mundo.