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Estamos prestes a entrar em território desconhecido com o regresso de Trump à Casa Branca este mês. Desengane-se quem pensar que tudo será como no primeiro mandato, em que parecia haver alguns (poucos) adultos na sala, preparados para pôr um travão quando o chefe se descontrolasse. Desta feita, temos um presidente engrandecido pela reconquista do poder, quase endeusado depois de ter sobrevivido a um atentado, rodeados de crentes fervorosos e de mão dada com o homem mais rico do Mundo. E é na relação com Elon Musk que vai jogar-se muito do próximo mandato, pela novidade do "bromance" (calão em inglês que junta a palavra amigo do sexo masculino e romance).
Os ricos e poderosos sempre tentaram influenciar, muitas vezes com sucesso, as decisões daquele a quem nos habituamos a chamar o homem mais poderoso do Mundo, o presidente dos EUA. Mas nunca foi dado tanto protagonismo e poder real ao um multimilionário com tendência para a conspiração, acesso sem rédeas a uma das maiores redes sociais e uma clara vontade de moldar tudo às suas ideias perigosas. Não sabemos como se vão relacionar estes dois egos gigantescos, mas já temos um vislumbre, com a guerra aberta entre o milionário sul-africano com os apoiantes de Donald Trump sobre os vistos de residência para trabalhadores qualificados.
No primeiro mandato, Trump decidiu restringir o acesso a este tipo de vistos (os H-1B), por considerar que ajudavam a substituir trabalhadores americanos por estrangeiros com salários mais baixos. Agora, com Musk a defender este tipo de vistos, o futuro presidente mudou de lado e concordou com o dono da Tesla e SpaceX, empresas que têm trabalhadores ao abrigo deste documento. Nas redes sociais, a discussão entre os fervorosos e xenófobos apoiantes de Trump e Musk, que não tem grande carinho por imigrantes pobres, mas que precisa do outros para ganhar mais dinheiro, tem entretido jornalistas e comentadores. Será isto a futura presidência de Donald Trump? Em caso de disputa ganha Musk? E quando Trump sentir que os holofotes já não o iluminam e preferem aquele a quem já foi chamado "first buddy" (o primeiro amigo)?
Falta ainda saber o que este poder real de Elon Musk do outro lado do oceano o vai compelir a fazer aqui, na Europa, onde as coisas não parecem famosas. Inchado por ter conseguido colocar na Casa Branca o presidente que escolheu (terão sido cerca de 250 milhões de dólares de investimento), quer fazer o mesmo no Reino Unido, com Farage, e na Alemanha, onde apoia abertamente o partido de extrema-direita (eufemismo para neonazi) Alternativa para a Alemanha nas eleições deste ano. E o perigoso é que tem as ferramentas para manipular a opinião pública a seu bel-prazer. Venha 2026, que 2025 já passou do prazo.