Corpo do artigo
A maior de todas as bruxarias destes dias de Halloween ainda é a de Tancos. Foi um roubo? Não foi um roubo? Quem roubou? Quem não roubou? Porque roubou ou não roubou? Não interessa. O ministro não explica, alguém escreve que quando a história se souber se verá que é uma anedota e por aí adiante. Até um dia destes se soube que o material apareceu e que, como por bruxaria, "veio um pacote a mais"! É tão absolutamente fenomenal que, de facto, dá vontade de rir.
Num plano mais sério deixa-nos uma imensa perplexidade: é possível que isto aconteça sem que ninguém assuma a responsabilidade? Pelos vistos!
Depois, ainda não me sai da cabeça o caso do abraço presidencial a Constança Urbano de Sousa. É uma coisa tipo Poirot como quando o grande detetive belga, imerso no trabalho das suas celulazinhas cinzentas, meneia a cabeça e repete "há qualquer coisa que não bate certo".
E há! Num momento, um presidente a roçar a ultrapassagem das suas competências constitucionais força uma verdadeira remodelação governamental com o dedo especialmente apontado a todos os que politicamente estão próximos do tema da administração interna do país. E, no momento seguinte, o mesmo presidente, em cerimónia pública, abraça, solidário e compreensivo, a responsável cuja morte política tinha provocado.
Não são afetos. É hipocrisia. Do discurso, não do abraço!
E por falar em afetos, temos agora o caso do candidato a vice-campeão desta corrida que ameaça ficar pegajosa.
É verdade que, como já aqui disse, a Santana Lopes atribui-se uma "alma" e a Rui Rio "um Excel".
Mas a razão e o seu exercício são o que Rui Rio tem de mais genuíno.
Já Santana Lopes não é genuinamente próximo - será sempre dos salões. Tem apenas uma espécie de leveza irresponsável que lhe dá uma certa graça mas dificilmente lhe rende como bandeira.
Acresce que há uns anos a maioria de nós achou bem que o então presidente da República criasse condições para a realização de eleições antecipadas, tão evidente era o apego da palavra "trapalhada" à sua gestão.
Os que pensam que para substituir Passos Coelho basta ser menos sisudo talvez se enganem.
A sisudez seca e vazia de Cavaco deu origem ao fenómeno "afetuoso" de Marcelo.
Mas a resiliência estrutural de Passos Coelho não pode dar origem apenas a um protagonista "mais próximo". Ou tudo será apenas um retrocesso.
*ANALISTA FINANCEIRA