Ainda não foram eleitos nem sacramentados e já todos os candidatos (sobretudo os mais elegíveis) se parecem com eles próprios, em versão calcária.
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Ou seja, ninguém se anuncia, ninguém tem nada a dizer, todos juram silêncio e imobilidade o que ainda é mais sinistro porque já ninguém vai para novo.
Todos, não. Há um que todos os domingos é um busto ao género do Bruno Aleixo. Não sei se se lembram, o boneco que era uma estátua falante e desconcertante.
Os candidatos independentes e os candidatos da esquerda à esquerda, transitam diretamente da fotografia para o esquecimento. Na sua maioria, autoexcluem-se uma semana depois do começo da campanha.
O candidato que já se anunciou na área do Partido Socialista teve como paga a mumificação precoce lançada como um raio por António Costa.
O candidato sério à direita, não se pode mexer nem que queira.
Ora vejamos:
- se for verdade que a coligação pode vencer, então é melhor não fazer muito ruído à volta de Rui Rio; afinal os portugueses podem querer "jogar no seguro" como se apregoa, mas duvidamos todos que queiram repetir a cavacal dose de alinhar executivo e presidência;
- se os portugueses tiverem medo de dizer que querem mudar (tal é a carga moral do discurso da atual maioria) mas votarem pela mudança, então é bom aparecer com Rui Rio em cima do resultado; pela mesma cavacal razão, é grande a probabilidade de votarem na alternância ideológica entre as instituições;
- e esta justificação para o silêncio do candidato à direita, também funciona se se acreditar no empate técnico que vai surgindo das sondagens; é que poderemos ter uma vitória da coligação mas com uma maioria de esquerda no Parlamento; a ser assim, mais vale reforçar a ala direita do sistema e garantir a Presidência; ainda que a esquerda em Portugal não se una nem por decreto;
- o congelamento das peças no tabuleiro afeta igualmente a alternativa socialista; Belém Roseira, ou seja quem for, não pode pura e simplesmente pôr o nariz fora da água com medo de precipitar um movimento geral que, por agora, está convenientemente suspenso;
Podemos, portanto, ir de férias descansados, conscientes de que, com a nossa matreira indecisão, transformamos candidatos em esfinges.
Podemos ir
de férias descansados, conscientes
de que, com a nossa matreira indecisão, transformamos candidatos
[à Presidência] em esfinges