Pandora Papers não é um filme, mas podia muito bem ser. Encaixaria na sequela das películas Offshore Leaks, Swissleaks, Panama Papers e Malta Files.
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Seja como for, Pandora é o êxito do momento e levanta, novamente, a questão fundamental: taxar mais as pessoas e as empresas contribui de alguma forma para reduzir a fuga de capitais ou, antes pelo contrário, incentiva a procura dos chamados offshores? Ponto prévio: quando a origem do dinheiro é ilícita, o valor das taxas de imposto é irrelevante. Ou seja, o país de origem até poderia ter uma carga fiscal nula e, ainda assim, os suspeitos iriam sempre tentar ocultar o seu pecúlio.
Que se saiba, Morais Sarmento, Vitalino Canas e até Manuel Pinho - os portugueses apanhados na malha dos Pandora Papers - não são empresários que criam riqueza e empregos. Se fossem empreendedores, poderíamos imaginar que ficaram desgostosos com o facto de Portugal ter a mais alta taxa média de IRC do Mundo, segundo a Tax Foundation. Esta ONG revelou em setembro que a intenção dos democratas americanos de carregar nos impostos colocaria os EUA no terceiro lugar do ranking mundial do IRC, a seguir a Portugal e à Colômbia. Segundo a Tax Foundation, a medida desincentivará o investimento e contribuirá para a fuga do capital para offshores.
Ser capitalista não é crime. Otelo Saraiva de Carvalho visitou um dia a Suécia e disse ao então primeiro-ministro que em Portugal o objetivo era acabar com os ricos. Olaf Palme respondeu-lhe que preferia acabar com os pobres. A "caça aos ricos" deve ter um propósito de direito tributário. Ter dinheiro em offshores não é ilegal. "Em vez de aumentar os impostos, é melhor ir buscar a matéria coletável onde ela hoje se esconde", dizia François Hollande, em 2013. Dentro da União Europeia, isso talvez seja viável. No espaço extracomunitário, "o sonho comanda a vida", como dizia António Gedeão.
*Editor-executivo-adjunto