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Mais tarde ou mais cedo, haveria de chegar mais uma fatura para os contribuintes. Quando ainda se fazem contas ao que vão custar os buracos da CGD e do Novo Banco, eis que surge mais um banco na liça, desta vez o Santander Totta, pronto a cobrar milhões por conta dos famigerados swaps assinados pelo conjunto de "boys" do PSD, PS e CDS que costumam alternar na gestão das empresas públicas de transportes. Depois da ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque ter empurrado o problema com a barriga (um pouco a exemplo do que fez com o BES/Novo Banco, com o Banif e com a CGD), com isso aumentando a conta, vem agora Mário Centeno anunciar as "vantagens" do acordo. Que se podem resumir assim: o Estado (os contribuintes) paga 1,7 mil milhões de euros ao Santander e este, por sua vez, soma-lhe 600 mil euros e empresta 2,3 mil milhões ao Estado, por 15 anos e com uma taxa de juro de 1,8%. Diz o ministro das Finanças que, com este acordo, os custos são menores, nomeadamente por via da poupança futura com juros. É uma forma de olhar para o problema, compreensível se tivermos em conta que Centeno, não sendo responsável pelo buraco, teve de encontrar uma forma de o tapar. Outra é perceber que assim se vai delapidando o dinheiro público, agravando o défice, aumentando a dívida, sem que ninguém seja verdadeiramente responsabilizado pelos atos de gestão danosa.
Há uma empresa, a Tecnórem, que ganha um concurso público de 21,5 milhões de euros para a construção da Escola de Comunicações da NATO, em Oeiras. Há uma outra empresa, a Mota-Engil, para a qual trabalha agora Paulo Portas, que já foi ministro da Defesa, que fica em segundo lugar no mesmo concurso e apresenta uma reclamação. Há um diretor-geral, Alberto Coelho, que fez parte da Comissão Política do CDS com Portas, que decide pedir o aconselhamento a uma sociedade de advogados, a Sérvulo Correia, a partir do qual a empresa que tinha ficado em segundo lugar passa para primeiro, e em que a empresa que tinha ficado em primeiro lugar é desclassificada, aparentemente à revelia de alguns dos membros do júri do concurso. Há uma tentativa da empresa que passa de bestial a besta para travar o processo em Tribunal Administrativo que esbarra na invocação do interesse público por parte do atual ministro da Defesa, Azeredo Lopes. A Tecnorém faz uma denúncia junto do Ministério Público, em que acusa Paulo Portas de participar num esquema de favorecimento à Mota-Engil. O contrato é assinado, assunto arrumado. Ou haverá por aí algum mal-intencionado que ache que algumas destas coincidências precisam de esclarecimento?
* EDITOR-EXECUTIVO