Quem não é do Benfica não é bom chefe de família. Precipitada embora, a conclusão bem poderia ser extraída perante a inundação noticiosa sobre tudo quanto emana de uma época futebolística de sucesso a partir do Estádio da Luz. O vermelho (ou encarnado, conforme o linguajar regional) cilindra tudo a um ponto de extremo otimismo segundo o qual é até possível admitir o crescimento do PIB perante o bem-estar de uns largos milhões de portugueses.
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O ciclone esconde, apesar de tudo, coisas más. Para mais hoje é o Dia da Família e os próprios benfiquistas, se tiverem uma veia de razoabilidade por cima da paixão dos seus corações, não têm muito que festejar. Estão igualados, sob o ponto de vista de nação e perspetivas de médio e longo prazo, a todos os de outras hostes.
Como assim?
O Instituto Nacional de Estatística revelou dados aterradores e em xeque fica o destino coletivo do país. Sim, já era conhecida a perspetiva de redução da população de dez para oito milhões nos próximos 20 anos, mas agora concluiu-se, e não apenas pelo envelhecimento, estar a agravar-se uma espécie de política de bicho do mato. Isto é: tem subido exponencialmente o número de pessoas a viverem sós, atingindo já a cifra das 886 827.
O coquetel é explosivo - e desgraçado.
A sociedade está em constante mutação e, evidentemente, adquire novos hábitos. Não pode é simplificar-se a análise por uma perspetiva de vivência mais egocêntrica. Não. Os portugueses aprofundam a solidão mercê de restrições impostas em múltiplos planos, a começar pela condição económico-financeira e daí espalham-se módulos de constrangimento. Hoje, Portugal dispõe da mais baixa taxa de natalidade da sua história e põe-se a jeito para um autêntico terramoto. A falta de políticas públicas de boa continuidade geracional acabará por dar mau resultado.
É preocupante a indiferença, a falta de um clamor geral a reivindicar condições de sustentabilidade futura de Portugal.
Urge a aquisição de uma consciência nacional para tão grave problema. E nem os benfiquistas se podem rir a bandeiras despregadas. Se eles pensarem bem, estão condenados a ser cada vez menos. O problema demográfico nacional é muitíssimo mais preocupante do que a maldição dirigida às águias por Bella Guttmann há 52 anos e não desfeita frente ao Sevilha em Turim. Toca a todos.