1. Já aconteceu ser o PS. Desta vez é o PSD. O país, dizem-nos, precisa de uma reforma do sistema político. Leia-se uma das frases que Rui Rio escolheu para justificar a proposta: "Ou damos todos [os partidos] um murro na mesa, ou o descrédito será cada vez maior. Inovar, adaptar os partidos ao século XXI, alterar o sistema político, voltar a conciliar as pessoas com os partidos é absolutamente vital para a democracia". Saiu da boca do líder do PSD, podia ter sido o líder do PS. Na verdade, com eventuais diferenças de contexto, encaixaria no discurso de qualquer político. É uma afirmação de "marca branca". Está tudo disponível em qualquer supermercado de ciência política. Revolucionário para o sistema político e para a democracia seriam outras coisas. Por exemplo, menos demagogia e promessas a eito. Menos apropriação e distribuição de cargos, bens e prebendas do Estado por parte da família alargada e da clientela partidária, de cada vez que muda o Governo. E, para aproximar eleitos de eleitores, avançar com a criação de regiões e respetivos representantes. Coisas que talvez fizessem mais pelo crédito dos partidos do que propor que os cidadãos passem a ser representados por cadeiras vazias.
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2. Um dos berços da democracia atravessa nova crise, depois de, num golpe palaciano, o primeiro-ministro britânico ter forçado a "suspensão" do Parlamento durante cinco semanas. Esvazia as cadeiras de Westminster e reduz (ou anula) a margem de manobra dos deputados que querem travar a saída desordenada da União Europeia. Note-se que o sistema eleitoral britânico está desenhado para aproximar eleitos de eleitores (círculos uninominais). E que o Brexit foi decidido pelo povo em referendo. Mas nada disso impediu a manipulação e a mentira em campanha, primeiro; e a incapacidade e incompetência em cumprir o que ficou decidido, depois. Talvez o descrédito dos partidos e da democracia não tenha nada a ver com sistemas eleitorais.
* CHEFE DE REDAÇÃO