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1) Cada um à sua maneira, Partido Comunista e Bloco de Esquerda sonham ver repetida a situação grega. Não que anseiem por uma deterioração, ainda maior, das condições de vida dos portugueses. O que os faz salivar é a hipótese de o Partido Socialista seguir o caminho do PASOK, reduzido a uma expressão eleitoral marginal. A entrevista de Francisco Louçã ao Expresso é, a esse propósito, elucidativa. Lá, como cá, o PS está ligado à negociação do programa de ajustamento, tendo muita dificuldade em se libertar dessa herança. A táctica passa por sublinhar a co-responsabilidade dos socialistas com as políticas que estão a ser seguidas. O pior que lhes poderia acontecer seria, por isso, que o governo acentuasse a política de austeridade, fornecendo ao PS o pretexto para saltar do barco e evitar o desgaste. Na perspectiva do PC e do Bloco, quanto mais tempo a actual ambiguidade se mantiver, melhor.
2)Fazendo jus à sua proverbial capacidade de organização o PC, em conjunto com a CGTP, tem vindo a organizar, por onde passam membros do governo e, até, o presidente da República, pequenas manifestações "espontâneas" de protesto, sonoras e aguerridas o suficiente para justificarem a cobertura de repórteres viciados no sensacionalismo acrítico, incapazes de fazer uma pergunta com sentido a quem quer que seja e, muito menos, aos putativos representantes do povo sofredor. Trata-se de operações mediáticas que visam criar a sensação do alastrar, por todo o país, de um sentimento de revolta justificado pelos sacrifícios que têm vindo a ser impostos aos trabalhadores. Nada que não se tivesse já visto, dir-se-á. Talvez não seja exactamente assim. Se o que se passou na Covilhã não tiver sido uma fuga acidental ao guião pré-estabelecido, poderemos estar perante uma escalada nas formas de contestação, envolvendo o insulto e ameaçando a violência. Não é típico e, no entanto, talvez não seja de estranhar. Confrontado com o acontecido, Arménio Carlos não teve vergonha de recorrer a uma argumentação capciosa, sobre os excessos do governo, para justificar o sucedido. Estejamos atentos aos próximos episódios para perceber se, como muitos anteciparam, a mudança de secretário-geral na CGTP correspondeu a uma radicalização não apenas no discurso, como na prática, reflectindo a vitória da linha dura e uma inflexão no posicionamento dos comunistas. Um caminho perigoso a que a necessidade de ganhar a "pole position" ao BE na luta pelos eventuais despojos do PS talvez não seja estranha.
3)À reforma da justiça, quaisquer que sejam os méritos e pecados próprios, aplica-se a metáfora da gota de água que faz transbordar o copo. Depois do fecho de escolas, delegações das finanças, postos da GNR, centros de saúde, e sei lá o que mais, haveria de chegar um momento em que as populações do interior que ainda por lá se mantêm dissessem "o que é de mais, é moléstia". Aconteceu quando se decidiu encerrar o tribunal. Era lógico. Não sou eu que o digo, é Jorge Moreira da Silva, o número dois do PSD. Diz ele que aquele tipo de decisões devia obedecer a uma perspectiva integrada, de modo a evitar que se acumulem encerramentos nos mesmos concelhos, a maioria dos quais no interior do país. Pode parecer óbvio e, contudo, marca uma ruptura com a política da decisão ministério a ministério, sem qualquer coordenação horizontal, de que o desenvolvimento regional tem sido vítima. Moreira da Silva não é membro do governo. No Executivo, o pelouro parece ser de Miguel Relvas. Se isto não é um atestado de incompetência ......
4)A novela "Metro do Porto" continua. Afinal, o modelo de organização conjunta com a STCP não é o que se dizia e não se percebe por que demorou tanto tempo a decidir. Mesmo com todos estes atrasos, o governo não foi capaz de nomear a equipa de gestão. Rui Rio desculpou o ministro da Economia, ingénuo e vítima de politiquices. Santos Pereia apressou-se a desmenti-lo: não havia divergências, nem pressões, no governo. Nesse caso, foi mesmo só falta de consideração pela Junta Metropolitana do Porto e inépcia. Mais valia ter estado calado.
O autor escreve segundo a antiga ortografia