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"Olhe, queria, se faz favor, um café duplo e uma tosta de queijo", disse numa esplanada do Grande Porto. "Mais nada?", respondeu-me o empregado. "É só, obrigado", afirmei solicitamente. A espera não foi longa, sobretudo pelo café duplo, que chegou à velocidade da luz. "Olhe, eu também pedi algo para comer", alertei. "Eu sei, senhor, mas o café é rápido e a tosta ainda está a ser feita". Posto perante a realidade de deglutir duas fatias de pão, com queijo quente derretido no meio, acompanhado por um café frio, revoltei-me. "Se eu pedi uma só bebida e, ainda por cima quente, por que razão não fez coincidir a entrega dos dois produtos? Quer que eu coma em seco?", afirmei de forma indignada. O empregado, claramente sem formação no setor, não compreendeu de todo. Entregar uma água natural, um fino ou um café antes da comida era exatamente igual, segundo o meu interlocutor. "Olhe, que não, olhe que não", asseverei, parafraseando Álvaro Cunhal em debate televisivo com Mário Soares nos alvores da democracia. No entanto, passada uma boa meia hora de reflexão sobre tão profundo tema, perdoei a falha. Porquê? A escassez de mão de obra no setor é um problema quase crónico da economia portuguesa desde que surgiu o boom turístico. Daí que os níveis de exigência na contratação tenham baixado, caso contrário muitos estabelecimentos teriam já fechado portas.O Consumo do Turismo no Território Económico situou-se nos 16,6% do produto interno bruto em 2024. Temos, portanto, tosta quente. Quase 40% dos trabalhadores imigrantes em Portugal estão no setor do alojamento e restauração, mas nove em cada dez recebem menos de mil euros brutos. Temos café frio.

