A Caixa Geral de Depósitos tem sido palco de uma das novelas politicamente mais lamentáveis dos últimos anos. O grande banco nacional de capitais públicos não devia ser assim tratado pelo Governo. Se não, vejamos: a administração está cessante desde o início do ano e demissionária há um par de meses. O impasse não beneficia ninguém, muito pelo contrário, e revela uma total incapacidade de liderança política e de gestão.
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O ministro das Finanças está a demorar oito longos meses para resolver o problema e nem a "desculpa" de o país estar a banhos justifica tamanha demora. Mário Centeno tarda em articular um modelo de governança da Caixa com os reguladores nacional (Banco de Portugal) e europeu (Banco Central Europeu). Demora ainda a nomear uma nova equipa e colocar a Caixa ao serviço da economia nacional, que deve ser a grande finalidade do banco público português. Centeno parece isolado no seu silêncio, já que até os dois partidos (PCP e BE) que ajudam a sustentar o Governo não estão disponíveis para colaborar na intenção de nomear uma equipa de administradores da Caixa em que haja acumulação de cargos. O BCE chumbou os nomes de oito dos 19 nomes propostos pelo Governo...
No meio da confusão, a parte mais lúcida da "geringonça" ainda parece ser a das esquerdas radicais, ao impedir uma alteração legislativa para permitir o alargamento da administração e os impedimentos quanto a acumulação de cargos... Ironia das ironias.
Pelo caminho, destruiu-se valor - os resultados semestrais da Caixa são negativos e os prejuízos aumentam -, perdeu-se reputação - o volume do aumento de capital previsto parece aumentar diariamente -, e diminuiu a credibilidade do Governo em matéria económica. O episódio dos administradores "desconvidados" em plena praça pública, envolvendo pessoas de inegável prestígio como Ângelo Paupério, Fernando Guedes ou Leonor Beleza, é uma vergonha.
Puxemos um pouco o "filme" para trás. Desde 2008 que a Caixa não apresenta resultados positivos, ou seja, acumula prejuízos e com isso é toda a economia que perde. Se, face a este historial, o Executivo de Pedro Passos Coelho não fica isento de culpas, a verdade é que nestes meses mais recentes o grande banco público nacional parece estar em queda livre. Com a agravante de, sublinhe-se, tratar-se de uma empresa totalmente pública, com um único acionista, que é o Estado.
Veremos qual a posição do presidente da República sobre o assunto, tendo já feito saber que não quer uma alteração legislativa "à medida", ou seja, uma nova lei bancária para adequar aos 19 nomes que propôs para a administração da Caixa.
O episódio dos administradores "desconvidados" em plena praça pública, envolvendo pessoas de inegável prestígio como Ângelo Paupério, Fernando Guedes ou Leonor Beleza, é uma vergonha.
* EMPRESÁRIO E PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO PORTO