Sempre que o calor aperta a sério e os fogos florestais ameaçam o país, surgem os discursos inflamados contra a falta de organização dos serviços de proteção civil ou o deficiente planeamento florestal.
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Quando a crítica é construtiva, faz sentido, vale a pena, até para reflexão futura; se entra no domínio do populismo puro e duro, só serve para desestabilizar, assustar as populações e minar a discussão, tornando-a completamente inútil.
As temperaturas, que já hoje escalam acima dos 40 graus, aliadas à seca colocam Portugal numa situação muito difícil nos próximos dias. É quase um país inteiro no vermelho face ao risco de incêndio. O primeiro-ministro, António Costa, esteve no terreno para sensibilizar as populações no sentido da tolerância zero a comportamentos que conduzam a focos de ignição, verificando ainda a prontidão dos meios de combate aos fogos. Nesta altura, não podia fazer muito mais. Se ficou alguma coisa por levar à prática em termos de prevenção - e é certo que assim aconteceu -, seguramente não poderá ser corrigida em meia dúzia de dias.
Mas, claro está, há sempre quem procure dividendos políticos com o mal das populações. Ou alguém acredita que a solução para acabar com os incêndios reside numa mudança do Código Penal, passando os incendiários a ser tratados como terroristas? Só mesmo André Ventura. Ou nem ele.
A retórica populista resolve tudo com simplicidade menos os problemas em si. Infelizmente, não é assim tão simples. Os incendiários devem ser conduzidos à Justiça, mas estes constituem apenas um dos termos de uma equação global há muito identificada pela ciência e negligenciada pelos governos. O aquecimento está a torrar a face da Terra a uma velocidade alucinante, que contrasta a lentidão na inversão das políticas verdes, cuja implementação precisa, urgentemente, de ser acelerada.
*Diretor-adjunto