Nunca as estradas portuguesas terão estado tão vazias. A Covid-19 transformou asfalto em areia e deu origem a um longo e ondulante deserto vedado por portagens. As áreas de serviço, outrora fervilhantes, são agora oásis espalhados pelo país rodoviário.
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A este quadro, tão em sintonia com as paisagens do Norte de África - se tivermos imaginação para isso -, nem sequer faltam os camelos. Como o azar bate quase sempre às mesmas portas, o papel de dromedário nesta narrativa é interpretado pelos portugueses, que, através do Estado, continuarão a alimentar as concessionárias, ainda que não tirem o carro da garagem e estejam mesmo "proibidos" de viajar na quadra pascal. Se não passam automóveis, a quebra será sempre suportada pelos dinheiros públicos. É o chamado negócio "win-win", contratos faraónicos alinhavados noutros tempos, por outros governos, mas pelos partidos do costume, que conduzem os destinos do país desde o 25 de Abril. Tantas vezes acelerando na fronteira do desgoverno, é bem verdade, mas sem nunca saíram da faixa de rodagem onde circulam os milhões das finanças públicas.
Jornalista