Os crimes em grupo e juvenis aumentaram, respetivamente, 7,7 por cento e 7,3 por cento em 2021, de acordo com o Relatório Anual de Segurança Interna. Perante esta subida de casos, Administração Interna, escolas e poder local devem pensar numa estratégia articulada para travar uma tendência que poderá provocar graves fissuras sociais.
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Em ano de fortes restrições de contactos de proximidade devido à covid-19, esperar-se-ia que as estatísticas relativas a uma violência que acontece sobretudo no espaço público diminuísse. Assim não foi. Os média noticiosos já tinham testemunhado isso, mas os números globais das entidades competentes nesta área apresentam um retrato mais fidedigno de um país que, em contexto urbano, continua com periferias demasiado explosivas. E a exigir ações plurissetoriais.
Não chega o Ministério da Administração Interna anunciar um reforço das comissões de proteção de jovens em risco ou da vigilância policial para inverter este quadro. É preciso dotar estas entidades de mais meios. No caso da PSP, impõe-se assegurar mais policiamento em zonas críticas, numa postura que privilegie a prevenção à correção de infrações.
Por seu lado, as escolas necessitam de prestar muita atenção a uma população estudantil alheada daquilo que se passa na sala de aula. Para isso, o Ministério da Educação deve dar maior estabilidade aos quadros dos estabelecimentos de ensino de zonas problemáticas, apoiando projetos de intervenção que ocupem os jovens em atividades de inclusão social. É igualmente fulcral integrar nos planos curriculares formação em redes sociais, que debata exaustivamente os riscos de uma comunicação digital centrada em conteúdos de rutura social.
O poder local também pode constituir-se como parte de uma solução de integração social. Os territórios, especialmente as cidades, desenham frequentemente espaços propícios à disrupção daqueles que neles habitam. Depois de uma geração de autarcas demasiado ocupada em multiplicar prédios, sucedeu uma outra geração muito ciosa de eventos promocionais. Tem faltado projetar urbanizações com quotidianos de bairro bem como reabilitar harmoniosamente espaços degradados. E, acima de tudo, iluminar as ruas, fazendo entrar aí atividades que lhes deem vida.
Há, pois, todo um programa sistémico para colocar em marcha. Associar este tipo de criminalidade ao hip-hop ou ao drill, para além de não fazer sentido, é perigoso. Porque cria preconceitos e não resolve o problema.
Professora associada com agregação da U. Minho