
De repente, algumas cidades portuguesas parecem ter uma febre contagiosa, pelo uso dos termos metrobus/BRT como solução rápida para melhorar o transporte coletivo.
Em poucas semanas, o assunto saltou dos gabinetes para a bancada do café. Toda a gente tem certezas nesta discussão, e as decisões vão sendo tomadas sem resultarem de um planeamento de desenvolvimento urbano, a montante.
Comecemos pelo básico, sem tecnicismos. Um metrobus é um autocarro com privilégios: faixa própria contínua, semáforos a seu favor, paragens mais "de estação" e muita frequência. A ideia é aproximar a rapidez e a fiabilidade do metro, mas com obra mais leve. Pode ser excelente por ser de rápida implementação, cobrir depressa o território, ligar periferias e ser mesmo prioridade ao transporte coletivo atual.
Um metro ligeiro é outra coisa: são veículos sobre carris, tipo elétrico moderno, com maior capacidade por viagem e infraestrutura ferroviária. Exige mais tempo na construção, é mais caro, mas fixa um eixo pesado de grande resposta para décadas. O problema é que por cá o debate está a ser feito ao contrário. Em vez de perguntarmos "que cidade queremos e que rede precisamos", discutimos o nome da "camioneta".
Com pouca literacia técnica e muito saber empírico, corre-se o risco de chamar metrobus a um autocarro apenas pintado de novo, que voltará a ficar preso no trânsito, perderá regularidade e descredibilizará o transporte público. Que se estudem as diferentes alternativas, para não ser uma excelente solução encontrada, mas para outro lugar. Usemos esta febre para construir mobilidade com cabeça, e não para inaugurar soluções rápidas que o futuro vai pagar caro.
