Apouco mais de um mês das eleições legislativas, o momento - é incontornável invocá-lo - é de globalização e, também, de crise internacional. Esta é sobretudo uma crise de confiança que é visível a diversos níveis da nossa sociedade, em especial na quebra acentuada do consumo e na retracção do investimento privado.
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Mas, e dado que perante a retracção na procura, as empresas tendem a ajustar no emprego, esta crise começa a ser sobretudo visível pelo aumento do desemprego. De facto, se algumas empresas ajustam a sua actividade sem dispensar recursos humanos - recorrendo por exemplo, aos múltiplos instrumentos recentemente previstos no Código do Trabalho, como a adaptabilidade do tempo de trabalho - outras, invocando motivos como o fim de contratos de trabalho a termo ou os despedimentos colectivos por motivos de mercado, empurram inúmeros trabalhadores para o desemprego. Assim, mais do que consequências financeiras esta crise tem, acima de tudo, graves repercussões sociais. Por exemplo, o Eurostat estima que em Maio de 2009 o desemprego tenha atingido, nos 27 países da União Europeia, cerca de 21,462 milhões de pessoas, o que significa um aumento de 5,111 milhões face ao período homólogo de 2008. Sabemos que esta crise evidencia a necessidade de uma mudança ao nível da regulação do capitalismo, alterando comportamentos de longa data. Mudança ao nível da regulação efectiva, da supervisão dos mercados financeiros, cobrindo todos os actores e instrumentos, senão também da governance das grandes empresas.
Mas, neste contexto, não deixará de ser igualmente premente repensar a acção do poder político. De facto, sendo esta uma crise de confiança, exterioriza-se também no plano político. As recentes eleições europeias (em que pouco se discutiu o futuro da Europa) foram exemplo disso: a abstenção massiva dos eleitores - que nalguns países superou mesmo os 70% - demonstrou o visível descontentamento com as instituições políticas europeias. Neste sentido, o pior que poderia acontecer na campanha nacional para estas legislativas seria os partidos envolverem-se numa teia de fait divers políticos que muito pouco ou nada interessam ao cidadão comum, mais preocupado que está, naturalmente, com o seu poder de compra ou o seu emprego. Que se debata até às próximas eleições - amplamente e sem ambiguidades - as diversas propostas políticas, nomeadamente no âmbito da economia (expondo propostas concretas sobre como deve Portugal responder à crise e relançar a sua economia e como pode ser criado emprego) e, ainda, no âmbito da regulação do Trabalho e da Segurança Social, da política de Saúde, ou da Gestão Territorial será, pois, a natural expectativa dos portugueses. Em nome de uma cidadania mais esclarecida e, por conseguinte, mais motivada.