Sempre me impressionou ouvir um padre dizer que o seu sacerdócio é um trabalho. Às vezes ouço alguns a falar das várias paróquias por onde passaram como se de colocações profissionais se tratasse. Ali trabalhava muito, aqui o trabalho é menos mas mais difícil, e assim e assado. Para mim não bate certo. Sacerdócio é entrega, é vocação, é serviço sem medida e sem salário.
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O serviço público, designadamente no exercício dos mais altos cargos políticos são-no na mesma medida. Sempre o foram mas, nos dias que correm, não há remuneração (presente ou futura) que compense o desgaste, a entrega, o sacrifício da exposição e da incompreensão. É tudo extremamente violento, rápido e completamente avesso ao mais pequeno exercício de contraditório.
Talvez por isso se assista a cada vez menos "vocações" e só quem tem a mira noutros voos aceita passar pela provação. O exercício de altos cargos governativos em Portugal tem dado acesso às mais variadas continuidades. Partenariados em grandes escritórios de advocacia, administração de grandes empresas, cargos de relevo em organizações internacionais, programas televisivos de alto rendimento.
Com honrosíssimas exceções, os nossos governantes são políticos de carreira e devem à confiança que o povo português lhes foi depositando a respetiva notoriedade e a consequente oportunidade de fazer a ponte para outros voos.
Sendo assim - e é - quando se coloca a questão da candidatura a cargos relevantes (por exemplo o de Presidente da República), todos os potenciais candidatos politicamente seniores devem à obrigação sentir a necessidade de servir o país. Quando muito aceitar-se-ia a demonstração de que não teriam o perfil indicado para o momento que atravessamos ou para as exigências que temos de enfrentar.
O que não se pode aceitar é a assunção, para mim, desavergonhada, de que não lhes apetece, não é o que desejam para esta altura das suas importantes vidas e saúdes.
É que tal como não me parece que o sacerdócio seja uma profissão, também está provado que tratar dos pobrezinhos em África e deixar morrer de fome os vizinhos que nem nos damos ao trabalho de conhecer não é caridade que valha a pena!