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Como a maioria dos portugueses, assisti incrédulo à nossa semana política e devorei os quilómetros de prosa escritos sobre esta degradante sucessão de demissões, nomeações, recuos e avanços num governo que cai de podre. Confesso que não tenho especial prazer em escrever uma crónica num quadro tão deprimente, pelo que aproveitei a divulgação do estudo de impacto da Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012 (CEC 2012) para apontar a algo positivo.
Aquilo que se disse de Portugal na Imprensa internacional dos últimos dias revela bem o défice de imagem de que o país sofre. O jornal alemão "Frankfurter Allgemeiner" exibia na sua capa de quinta- -feira uma imagem do famoso "O fado" de José Malhoa, acompanhada da manchete "Das leben kann so fado sein" (A vida pode ser tão fado), alusiva à nossa forma de viver sem futuro. Por sua vez, o "Financial Times" do mesmo dia descolava Portugal da Irlanda, afirmando que no nosso caso a origem dos problemas foi a erosão da base industrial, que apenas deixou o que não é competitivo, e a baixa formação da força laboral.
Independentemente de alguma injustiça que estas apreciações possam conter, a verdade é que os lusitanos não são capazes de projetar uma imagem positiva, moderna, competitiva, nem mesmo corajosa. E esta realidade tem custos objetivos, sobretudo para uma pequena economia aberta que necessita de se posicionar e de vender para o Mundo. Como se inverte esta espécie de fatalidade?
Naturalmente que não há uma resposta simples ou única. Acredito, contudo, que no marketing mix de que o país necessita, os eventos internacionais são um veículo por excelência, quando criteriosamente escolhidos e pensados. Não se podem repetir os erros do passado, como construir estádios que se transformam em elefantes brancos, mas também não se pode contaminar o debate com as más experiências, colocando tudo no mesmo saco. Assim, socorro-me da Guimarães CEC 2012 para defender a organização de eventos que, repito, quando criteriosamente escolhidos e pensados, tanto nos podem ajudar, externa e internamente.
A decisão de organizar um evento deve ser tributária de uma estratégia de longo prazo. Não pode ser de outra forma. A CEC 2012 contribuiu para projetar Portugal na cena cultural europeia, mas o seu maior desígnio foi o estabelecimento de uma vocação diferenciadora para Guimarães, potenciada pelo valor da marca que o estatuto de património mundial do seu Centro Histórico lhe confere. A recente proposta do secretário de Estado da Cultura de celebrar um acordo no sentido de manter para o futuro a aposta de Guimarães na Cultura é o caminho certo e é demonstrativa de que pode e deve haver uma estratégia de longo prazo.
Portugal não se pode fechar, não pode desinvestir por completo nem desaparecer do mapa internacional dos eventos. Está demonstrado que essa declinação da austeridade tem também efeitos recessivos. Mas deve cuidar, mais do que nunca, da sustentabilidade dos eventos. A escala e os custos, confrontados com o potencial de retorno, terão de ser ajustados à dimensão e às disponibilidades do país. A CEC 2012 foi bem um exemplo de como com um investimento modesto se faz um programa de grande dignidade e se geram retornos importantes. O contributo para o PIB foi contabilizado em 85 Meuro, tendo sido criados 2100 postos de trabalho. Para um investimento do Estado de 27,1 Meuro, as receitas em impostos atingiram os 30,7 Meuro, o que significa que ao impacto sociocultural acresce um resultado financeiro público positivo.
Por fim, os eventos devem ser mobilizadores da sociedade e uma montra das melhores competências, produtos e pessoas. Este aspeto foi central no desenho do programa da CEC 2012, que procurou envolver a população local e, de certa forma, apelou para o orgulho de ser português e vimaranense.
O regresso aos eventos, na escala apropriada, tem um efeito mobilizador ímpar, tão necessário num país deprimido e esmagado pela mediocridade dos seus líderes. Faz--nos sentir capazes, ativos, orgulhosos, enfim, portugueses no melhor dos sentidos. E mostrar à Europa e ao Mundo que queremos agarrar o futuro.