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1O que será mais justo, quando uma empresa vai à falência: que seja o accionista a pagar os prejuízos, ou que os paguem os contribuintes? Que paguem os donos das empresas, ou seja, os que compraram as acções da empresa? Ou que paguemos todos, mesmo os que nunca compraram acções, mesmo os mais pobres? Entre uma hipótese e outra, por qual optaram os nossos deputados, esses mesmos, os que representam o povo, e não os accionistas? A pergunta é retórica, todos sabemos de que lado estamos. Do lado dos que vão ter de pagar muitos milhares de milhões de euros para tapar os buracos abertos por um conjunto de malfeitores. E foi portanto sem surpresa que se assistiu à recusa da proposta do Bloco de Esquerda, que pretendia responsabilizar os accionistas/proprietários do BPN pelas tropelias que lá se fizeram. Chama-se a isto, segundo especialistas de diversos quadrantes ideológicos, privatizar os lucros e socializar os prejuízos. Ou seja, capitalismo, mas só quando dá jeito aos capitalistas.
2. Os apoios à habitação que algumas câmaras municipais começaram a distribuir, perante o desespero das famílias que lhes foram bater à porta, estão a ser contabilizados como rendimentos pela Segurança Social. O resultado, muito conveniente, é que o valor das prestações sociais que o Estado devia pagar aos mais pobres baixam quase na mesma proporção. Que é como quem diz que as câmaras estão a financiar o Estado. Julgava-se que os apoios sociais eram atribuídos porque as pessoas precisavam, mas pelos vistos isso era noutros tempos. Faço então uma sugestão: que os apoios sociais sejam sujeitos a IRS. Não se trata de um rendimento? Cobre-se a taxa. Assim, ao que se está a poupar em subsídios, soma-se a cobrança de impostos. No limite, podemos chegar ao Estado perfeito e ao défice zero: daremos muitos apoios sociais, mas cobraremos outro tanto aos beneficiários. Seríamos simultaneamente campeões do Estado social e exemplares na cobrança fiscal.
3. O salário mínimo sobe, a competitividade desce. Ou seja, segundo a avaliação do nosso Ministério das Finanças, se as pessoas começam a ficar um pouco menos miseráveis, o país fica a perder. Há outras coisas que sobem, como os impostos, e outras que descem, como o dinheiro nos nossos bolsos, mas nesta altura o que lhes interessava estudar era o impacto negativo do salário mínimo. Esqueçam isso de querer atingir o nível de vida de um alemão, tal significaria o colapso da economia. Assim, por cada mão-cheia de euros que sobe o salário mínimo, são umas décimas que baixa o PIB. Claro que o operário não paga a mercearia com o PIB, e sim com o euro, mas que interessa isso a quem se limita a tentar encontrar uma justificação para evitar assumir os seus compromissos?