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Sem regulação e supervisão, a economia de mercado transforma-se em capitalismo selvagem. O cumprimento de regras cede perante o vale quase tudo. E no final, o custo é invariavelmente grande. O banco britânico HSBC, nascido em 1865 como The Hongkong and Shanghai Banking Corporation Limited, até se transformar no maior banco europeu da atualidade, acaba de anunciar um plano de choque que implicará uma redução até 25 000 trabalhadores, o encerramento de agências, a separação das atividades de retalho e investimento, o fim das operações no Brasil e na Turquia e a eventual mudança da própria denominação.
Este foi o resultado do envolvimento em sucessivos escândalos que ligaram o HSBC à operação Swissleaks e a práticas de branqueamento de capitais, de evasão fiscal e de manipulação de mercados.
O BES nasceu em 1869 como casa de câmbio em Lisboa, até se transformar no maior banco português. O fim chegou na sequência de uma medida de resolução imposta pelo conhecimento de graves prejuízos antes ocultos, atos de gestão alegadamente danosa, sob investigação, incumprimento de rácios de solvabilidade e problemas de tesouraria.
Em ambos os casos - como antes com o BPP e BPN à escala nacional e inúmeros outros à escala mundial - a avidez irresponsável na gestão assegurou o destino que poucos julgariam possível. Mas tivesse sido diferente a competência e exigência no cumprimento de regras, por quem tem a obrigação se as impor ao nível das supervisões, e certamente a história teria sido outra.
BPP, BPN e BES deixaram lesados. Portugal inteiro a começar. Uma atividade bancária capaz é fundamental à economia de qualquer país. E o encerramento de todos não foi uma boa notícia. Acresce o balanço do custo para os contribuintes, que a propósito da nacionalização do BPN ainda está por fazer.
Há também os outros lesados. Aqueles que investiram ponderada e conscientemente o seu dinheiro, em operações de mercado lançadas aos balcões do BES e os demais - não poucos - que foram simplesmente enganados.
Enquanto banco de transição, o Novo Banco será vendido. O melhor resultado da operação significará simultaneamente o menor prejuízo para o resto dos bancos nacionais. Significará também, quem sabe, o começo da resposta devida em favor daqueles que perderam poupanças e rendimentos, na base de atos dolosos de terceiros que, premeditando a conduta, venderam ilicitamente "gato por lebre".
Se assim puder ser, mais do que a rejeição do capitalismo selvagem, em favor de um mercado saudável, estará a fazer-se justiça.