Como se trava um exército que não tem líder? Como se decapita um movimento inorgânico, apolítico na essência, mas manchado por extremismos de Esquerda e de Direita, se as suas reivindicações são difusas e em grande número? Se os seus alvos estão em movimento?
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Entre os pensadores franceses, avulta uma expressão que define com propriedade a força dos "coletes amarelos": "socialização da rotunda". A materialização violenta das angústias de uma classe média e baixa que se sente esquecida pelas elites, que jaz nos antípodas do discurso reinante. Do sistema que supostamente a oprime e dos sindicatos que não a defendem devidamente. A rua derrama a revolta na rua. Por isso é tão explosiva esta onda de fogo. Conseguiram anular o novo imposto sobre os combustíveis, não conseguiram recuperar o imposto sobre as fortunas. Mas o Governo capitulou. E essa é a maior força desta mole humana: se o poder se rende à violência, pode continuar a ser testado. Sobretudo por um exército sem líder que se alimenta da desordem.
*Jornalista