1. É sempre assim: se há um problema, faz-se uma nova lei. Ainda que a lei que se aprova hoje diga exactamente o contrário da lei que se aprovou ontem. Ainda que sejam os mesmos a propor hoje a cara e amanhã a coroa. Que é o que está a acontecer por estes dias com a escola.
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Uma criança de 12 anos morre em circunstâncias dramáticas. De imediato se questiona, e bem, o problema da violência escolar descontrolada. Um professor suicida-se por razões igualmente dramáticas. Uma aluna agride a professora à dentada. E logo a seguir, de forma lógica, se questiona a indisciplina dos alunos e a falta de autoridade do professor. Mas ainda a reflexão vai no adro e já uns quantos [ministra, oposição, sindicatos], com dedo rápido no gatilho, disparam propostas de leis e decretos. Muda-se já o estatuto do aluno, volta o castigo para as faltas mais ou menos injustificadas, suspende-se de imediato o aluno suspeito de violência, equipara-se a autoridade de um professor à de um polícia, porventura com um moderno bastão a substituir a vara de marmeleiro de antigamente.
Será que assim se resolve o problema da violência e da indisciplina nas escolas? Resolve… até ao próximo episódio com um telemóvel, até à próxima sessão de pancadaria, até à próxima sova a um funcionário, até à próxima morte. Altura em que alguém voltará a disparar propostas de leis e decretos.
Como se a autoridade de um pai, de um funcionário, de um professor, de um director, de um deputado ou de um ministro se conseguisse por decreto. Para se ter autoridade o que é preciso é ter competência: para educar, para vigiar, para ensinar, para dirigir, para legislar e para executar políticas.
Costuma dizer-se, a propósito de tudo, e também da escola, que antes é que era bom... Tenho dúvidas, foi a escola de antes que formou esta gente que um dia faz e no outro desfaz. Para que no próximo ano lectivo se volte a fazer e a desfazer. Seria burlesco não se desse o caso de com isto se conduzir a escola pública para o abismo.
2. Já é tempo de começar a pagar portagens nas Scut, diz-nos o ministro das Finanças a partir de Bruxelas. É bem capaz de ter razão. Sabemos todos que em tempos de crise temos de apertar o cinto. Se até os desempregados ou os madraços que vivem à custa do rendimento mínimo vão perder regalias, porque não os aburguesados proprietários de automóveis? Sobretudo se viverem na próspera e endinheirada Região Norte.
Teixeira dos Santos até já tem uma estimativa de receitas para as portagens das Scut do Grande Porto, Norte Litoral e Costa de Prata: 120 milhões de euros por ano, ou seja, a vigésima parte dos 2400 milhões de euros que vai custar a linha de TGV Lisboa-Madrid. Sendo que este projecto é de interesse nacional, portanto pagamos todos, gostemos ou não de andar de comboio. Os lisboetas têm todo o direito de ficar ligados à Europa através da rede de alta velocidade. Parece-me justo. Paguemos portanto a nossa portagem e o bilhete de comboio deles.