O casamento por amor, uma das mais maravilhosas invenções do século XX, não resistiu à mudança do milénio. Foi ferido de morte pela crise e a revolução tecnológica que massificou as redes sociais. O casamento por interesse, contratualmente regulado até ao mais ínfimo dos pormenores, está de volta.
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Quando, há 12 anos, juntaram os trapinhos, Bárbara e Carrilho não tiveram essa cautela, mas a culpa é deles. Os sinais da mudança eram visíveis. Toda a gente sabia que o contrato de casamento de Catherine Zeta-Jones com Michael Douglas incluía uma cláusula penal que estabelecia o pagamento ao cônjuge traído de uma multa de dois milhões de dólares, por cada facadinha no matrimónio.
A imprudência paga-se. A apresentadora e o filósofo torraram uma fortuna em advogados para acordar os termos do divórcio em que ela fica com 100% dos ativos da sociedade (casa e dois filhos), pagando 400 mil euros pela quota dele.
Mark Zuckerberg - que inventou o Facebook para engatar gajas e se tornou no homem que mais casamentos desfez - percebeu que o casamento por amor está morto e enterrado quando, antes de casar com Priscilla Chan, assinou um papel comprometendo-se a dormir com ela pelo menos uma vez por semana e a garantir-lhe um mínimo de 6.40 horas por mês de tempo de qualidade (seja lá o que isso for).
No nosso país, são cada vez menos os que se aventuram a formalizar uma sociedade matrimonial. Em 2012, celebraram-se 34 423 casamentos, menos 1612 do que em 2011. É natural que em tempos de crise prolifere a economia paralela das uniões informais. A prova dos nove são os 40% de bebés filhos de casais não convencionais, que não arriscaram investir num casamento de papel passado e contrato firmado.
Os casamentos estão em queda e os divórcios também, o que parece contraditório, mas não é, porque as estatísticas são maleáveis - e os factos não. Após subirem até um pico de 27 556 em 2010, os divórcios começaram a deslizar suavemente para 26 751 (2011) e 25 380 (2010), recuando para o nível de 2007 (25 120).
O divórcio tornou-se um luxo. A seguir ao desemprego, é a principal causa de sobre-endividamento. Por isso, os casais separam-se, mas continuam a viver debaixo do mesmo teto, não assumindo oficialmente uma falência que fica escondida aos olhos do INE.
São cada vez mais frequentes os casos em que, depois da rutura, os sócios optam por fazer vidas separadas, mas partilhando casa e despesas. Uma opção racional, até porque no estado em que está o mercado imobiliário, vender a casa à pressa seria um ato ruinoso, pois em muitos casos o encaixe nem chegaria para liquidar o crédito à habitação.
Claro que viver na mesma casa que o/a ex pode ser uma decisão de consequências imprevisíveis, principalmente se um dos parceiros for ciumento. Mas isso já é outra história, habitualmente noticiada nas páginas da secção de Segurança...