Os milhares que saíram às ruas de várias cidades de Portugal para reclamar o acesso justo a uma habitação digna eram todos membros das classes menos abastadas? Julgo que não.
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Esses beneficiam, felizmente, de apoios diretos e indiretos do Estado para ter um teto. Basta ler, ver ou ouvir os testemunhos dados pelos participantes nas manifestações deste último fim de semana. Lembremo-nos do que tem sido dito pelos professores grevistas quanto à dificuldade de pagar uma casa quando estão deslocados. Recordemos os protestos dos estudantes universitários quanto ao preço dos quartos, fenómeno que já está a contribuir para o aumento do abandono escolar no Superior.
As várias classes médias estão financeiramente estranguladas. Do ponto de vista fiscal e das políticas de auxílio estatal, não é preciso ganhar muito para ser considerado inelegível para a maioria dos apoios públicos. Basta recorrer às regras do subsídio de família para demonstrá-lo: agregados com rendimentos acima de 15 512 euros anuais estão excluídos, o que dá uma média de 1108 euros mensais (14 meses).
Neste contexto, é natural o desânimo patenteado pelas classes médias de várias profissões. Um estudo recente mostrou que, entre 2019 e 2022, os preços das casas em Portugal subiram 38%, enquanto o rendimento disponível das famílias apenas aumentou 9% naquele mesmo período.
O país mais feliz do Mundo, a Finlândia, que foi este domingo a eleições, é, sem dúvida, mais rico do que Portugal. Ainda assim, não deixa de ser curioso que o salário médio seja sensivelmente o triplo do nosso e que o preço por metro quadrado seja muito próximo: 5000 euros em Lisboa contra 5340 na área metropolitana de Helsínquia (dados do primeiro trimestre de 2022). Seremos nós o país mais infeliz do Mundo? Bastaria um acesso justo a uma casa para nos arrancarem um mero sorriso.
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