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Lee Kuan Yew, o velho chinês que liderou a transformação de Singapura de um remoto entreposto colonial num dos poderosos "tigres asiáticos", morreu há dias. Mas fica para a história (foi em 1965) a sua profecia de que, no futuro, já agora, a competição será cada vez menos entre estados ou empresas, para ser cada vez mais entre cidades. E serão mais competitivas aquelas que souberem atrair mais inteligência, mais competências, num ambiente amigável que promova a criatividade, talentos e inovação.
Pois bem, é destes predicados e desse contributo que vale a pena falarmos quando celebramos, por estes dias, o 10.º aniversário da Casa da Música.
Quanta tinta de polémica antecedeu aquela inauguração, a 14 de abril de 2005, no Porto! O costume: é megalómano, é caro, é elitista, é no local errado, é estrangeirado, leva anos de atraso, derrapou nos custos... Oh, vã cobiça!
Dez anos depois, a Casa da Música é um ícone urbano, que qualifica o Porto e prestigia o país. Muito mais do que a peça de arquitetura vanguardista, frente à qual se fazem fotografar milhões de turistas, vale o lastro de cultura que a instituição acrescenta à comunidade, cada ano que passa. E não é pouco o que já passou: quase cinco milhões de visitantes, 2400 concertos, mais de dois milhões de espectadores e participantes, envolvidos em quase 14 mil atividades culturais...
Da música erudita à música popular, dos clássicos ao experimentalismo, do jazz tradicional às chamadas músicas do Mundo, e do rock independente ao jazz de vanguarda, a Casa da Música é, cada vez mais, "a casa de todas as músicas", fazendo jus à vocação inicial que lhe atribuiu Pedro Burmester, o seu primeiro diretor artístico.
É certo que as dificuldades orçamentais dos últimos anos obrigaram a Casa a um esforço adicional de criatividade, e a sacrificar a programação e a equipa. Mas o percurso consistente de conquista de novos públicos, a abertura a parcerias de produção e o lançamento dos serviços educativos que fazem da música uma preciosa ferramenta de integração social permitem encarar o futuro da Casa com otimismo e ambição.
Assegurada a sustentabilidade, os desafios vindoiros passam por aprofundar a apropriação da Casa da Música pela cidade e pelo país, e por projetá-la para fora do seu território.
A Casa da Música é já hoje uma referência no panorama musical europeu. Não dar asas ao potencial de internacionalização que ali está seria não perceber como serão as cidades com futuro.
Venham mais dez, pois!