Não sei, no dia em que escrevo, se haverá resultados do raio-X aos gabinetes que António Costa acaba de anunciar.
Corpo do artigo
Sei que o assunto pode descambar numa onda de demagogia barata, estimulada por uma oposição precipitada e acelerada por um mundo digital propenso ao discurso superficial e violento.
É o mérito e não qualquer outro fator o que deve determinar, em todas as circunstâncias, a escolha de uma pessoa para o exercício de qualquer função.
No caso do exercício de funções públicas e /ou políticas o mérito, que não será exclusivo de uma única pessoa, deverá ser ponderado por outros fatores, designadamente a representação geográfica do país. Costumo dizer que não me incomoda especialmente o grau de parentesco se as pessoas tiverem mérito. Talvez me incomode muito mais o facto de, havendo várias pessoas com mérito, se escolham sempre as de Lisboa.
Dito isto, o caso que presentemente nos ocupa (e falo das nomeações para o exercício de funções governativas) resume-se a um risco assumido, ponderado por quem o decidiu correr e avalizado pelos devidos órgãos de soberania: o Governo e a Presidência da República (neste caso por dois titulares consecutivos). Como de há quatro anos a esta parte as pessoas em causa não parecem ter dada má conta de si nem, que se saiba, causaram dano de maior, é razoável pensar-se que este afã quanto à unicidade da representação familiar em ação governativa seja sobretudo tributário do momento eleitoral que atravessamos.
Normal se não fosse perigoso. Se a cortina de fumo continua, a débil convocatória sobre o desafio europeu que as eleições de 25 de maio já por si configuram será radicalmente trucidada. O concurso a ver quem nomeou mais adjuntos, secretárias ou secretários toldará qualquer hipótese de reflexão séria e votaremos todos no dia 25 cheios de raiva e cheios de razão.
Só não veremos os candidatos, as propostas, o futuro. Riscaremos a cruz como se o boletim de voto fosse um alvo de tiro.
Com a arrogância de quem descarta "assumir a responsabilidade pelo futuro pelo prazer rasteiro de culpar os outros pelo presente".
*Analista financeira