Corpo do artigo
Estou a escrever esta coluna numa aplicação da Google, num telemóvel Apple, depois de ter lido algumas notícias no Facebook. Cada um destes carateres estão a ser, a cada batida, instantaneamente guardados num qualquer servidor e ali ficarão, mais uns pedaços de informação a serem usados sem controlo para construir a minha involuntária identidade digital. Se quiser usar o telefone para telefonar, nem sequer consigo. "Sem rede", assim está escrito no topo deste ecrã. Tenho Internet onde não tenho linha telefónica, o que significa que mais facilmente consigo tirar e partilhar uma fotografia desta encosta remota onde estou, do que telefonar à minha mãe a dizer que estou bem.
Nada disto é já novo, nem sequer a ingenuidade com que nos entregamos assim, sem pensar, a estas corporações. Mas para quem cresceu nos anos 80 é impossível não sentir um certo encantamento, mesmo que renitente. Quando era pequeno jogava ao berlinde e fazia uns Legos. A televisão tinha dois canais e o rádio enorme que havia lá em casa, que dava para gravar cassetes, era o pináculo da tecnologia doméstica. Agora já não há cassetes. Ainda bem. Se ainda houvesse, provavelmente este texto só chegaria a si na próxima semana.
*Jornalista