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António Costa reuniu com líderes do capitalismo chinês - o internacional comunismo tem destas coisas - para promover vistos gold e apelar ao investimento em Portugal. Conviria é ter em conta que os empresários asiáticos que adula são a hipérbole absoluta dos "muito ricos" contra quem a geringonça investe por cá, multimilionários capazes de fazer corar de vergonha o mais bafejado "ricaço" nacional que Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e grande parte do PS em "bloquização" adorariam ver na penúria. Não consta também que o primeiro-ministro tenha dado conta aos "meio-vizinhos" asiáticos por parte do pai - a evocação foi sua - dos castigos tributários na forja contra o pecado que é ter património ou optar pela poupança no nosso país.
António Costa tenta na China a doutrina que vai firmando à Esquerda em Portugal. Muda ao sabor do tempo curto e da plateia. O que hoje é, amanhã já não. Pede a chineses o que critica perto de jovens socialistas, mas argumenta como bom junto de empresários nacionais. Representa uma deriva do PS para o marxismo, perante comunistas há muito seduzidos pelas virtudes do capitalismo. O problema é se tentarem casar tudo.
Em dezembro de 2014, quando à escuta estava a JS reunida em Tróia, António Costa criticava o Governo PSD/CDS dizendo que "o investimento estrangeiro em Portugal não se pode limitar à mobilização de capital para comprar empresas em privatização, nem à troca de vistos gold pela compra de imobiliário". Está então na China a fazer o quê?
E em fevereiro de 2015, quando na mira estavam empresários reunidos na Assembleia da República, veio a promessa. Os vistos gold terão de ser reorientados para um "fundo de capitalização", porque "a questão da capitalização é um dos principais problemas que o tecido económico enfrenta". Esse fundo, adiantou, "poderia ficar sob a responsabilidade do IAPMEI ou da Caixa Geral de Depósitos". Onde para então o fundo? Já ninguém se lembra disto?
A propósito; entre outros, com António Costa estiveram sentados na China os representantes da Fosun, da China Three Gorges, da State Grid, da Haitong e do Bank of China.
Quando a Three Gorges entrou no capital da EDP, o BE reagiu violentamente em 2011. Na altura, o partido disse em comunicado: "Estamos perante uma posição incompreensível e inaceitável, ainda mais grave porque se trata de uma empresa chinesa, de um país em que o regime ditatorial é efetivamente uma realidade".
Então e agora, Catarina Martins? Nem um sussurro?
A democracia, expurgada de hipocrisia, que maravilha seria.
* DEPUTADO EUROPEU