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A notícia passou mais ou menos despercebida, no meio do turbilhão político em que vivemos, mas importa registar: em três anos, ficaram por executar cerca de 2,5 milhões de euros das verbas que o IVDP dispunha para a promoção e internacionalização do vinho do Porto e DOP Douro.
Se pensarmos que, só este ano, se estima que 80% do valor orçamentado para este fim ficou cativado, percebemos a dimensão e a gravidade do problema, num instituto público que goza de autonomia para receber dinheiro - de resto, vive exclusivamente com receitas próprias - mas não para o gastar ou investir, já que para isso depende de autorização do Ministério das Finanças. Onde é que já vimos este filme?
O IVDP não precisa, certamente, de defensores públicos nesta matéria, porque tem órgãos próprios para reclamar outro tratamento por parte do Estado central. Não obstante, não é possível ficar indiferente às consequências que esta cativação representa num ativo tão importante para a economia regional e nacional, e que constitui um dos poucos produtos portugueses com valor acrescentado no mercado global.
Desinvestir na promoção internacional do vinho Porto - sobretudo este - é contribuir para agravar as dificuldades sérias que toda a cadeia de valor está a sentir nos últimos anos. Veja-se as queixas recorrentes dos produtores face à perda de valor dos seus stocks e a própria quebra nas vendas que se tem vindo a sentir este ano, com menos 3,4% em quantidade e 2% em valor, no produto engarrafado, registados entre janeiro e setembro.
A somar a tudo isto, estão dificuldades estruturais que se estão a intensificar na mais antiga região demarcada do Mundo, como é o caso da questão demográfica e a perda galopante de população; o impacto crescente dos fenómenos climáticos extremos e imprevisíveis; os atrasos na eletrificação ferroviária, cuja melhor previsão aponta agora para 2027; ou os problemas crónicos com a solidez e sobrevivência da Casa do Douro.
No próximo ciclo político, olhar para o Douro com outra ambição e reformismo seria um serviço patriótico. Ter um dos maiores patrimónios do país transformado numa das regiões mais pobres da Europa não tem de ser uma fatalidade.