A economia monetária, já há vários séculos, estuda o fenómeno da inflação. Nomeadamente, desde Azpilcueta, um jesuíta navarro, que se notabilizou em Coimbra e foi à época (século XVI) considerado um dos mais sábios de então.
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No século XVI, Portugal e Espanha estavam inundados de dinheiro - quer o oficial, quer o dinheiro falsificado, que vem sempre atrás. Mas já aí se questionava - porquê a subida dos preços? Quatro grandes razões foram então apontadas por Azpilcueta.
A primeira - a esperança. O vendedor sobe o preço do pão para manter o seu ganho. Quando tem de comprar matéria-prima mais cara, ele quer/espera levar o mesmo dinheiro para casa. Logo, tem de subir o preço dos produtos que vende para manter a margem.
A segunda - por antecipação. Ao ver os vizinhos, que até vendem outros produtos, a subir o preço dos produtos deles, o nosso comerciante sabe que, ao aumentar os próprios preços, sempre se pode escudar no conceito mais abstrato e irresponsabilizado de todos: o "mercado". Se todos sobem, porque não há de ele subir? E quando tiver de subir o preço dos produtos dele, aproveita para subir mais um pouco, ganhando no movimento dois tempos.
A terceira - por ensaio. Ao subir o preço, testa o comprador. Se dois ou três desistirem da compra com o preço mais alto, mas se cento e quarenta pagarem mais pelo pão, o que perdeu o nosso padeiro? Pouco ou nada. Se for ao contrário, recua para preços mais baixos no dia seguinte, culpando a quarta causa.
A quarta causa - a especulação. A especulação é o uso e abuso da nossa carteira a partir da nossa intimidade: dos nossos medos, vícios e receios. Já os hebreus diziam - Pensa num homem! Deus conhece-lhe a alma, a mãe o coração e o comerciante conhece-lhe a alma, o coração e também a carteira.
*Professor da Universidade do Minho